Espelho, espelho meu...

 
Devo confessar que, por inúmeras vezes, já deixei de fazer amigos por causa de minha forma reservada de ser. Mas não faço por mal. Sou assim desde sempre. Da família ou das turmas na escola, sempre fui a mais fechada, introspectiva, desconfiada, calada... Reconheço... Sempre fui mesmo um bichinho estranho, talvez, um bicho do mato, resumisse muito bem esse meu jeito de ser... Sabe esses animais desconfiados? Esses que, quando você chega no habitat natural deles, não lhe mordem de imediato, mas lhe olham de lado, lhe rondam, lhe sondam, lhe cheiram e ficam só lhe observando, até perceberem quem você é? Pois é... Mas, em compensação, quando sentem que você é de confiança, se aproximam, brincam, se roçam em suas pernas e viram seus melhores amigos? Outro dia, somente outro dia, percebi que assim sou eu...

Quando tenho afinidade por alguém, a essa pessoa não ofereço apenas minha amizade... A ela ofereço minha atenção, meus sentimentos, minha lealdade... Pode até não ser o mais correto e, por isso talvez, eu sofra tanto, mas oferto também meu mundo, abro minha  casa, minha vida, ofereço meu tudo e tento, eu disse, "tento" dar somente o melhor que há em mim... Mas, nem sempre consigo essa façanha,  uma vez que, como qualquer mortal, às vezes, deixo escapar por entre minhas horrendas frestas escorpianas, inúmeros defeitos meus, tais como, meus ciúmes excessivos, minha possessividade, minha irritante desconfiança e meus terríveis impulsos... Ah, essa minha impulsividade... Funciona como um punhado de pedrinhas minúsculas, que se espalham por todo meu calçado!

Dizem que o reconhecimento de nossas imperfeições já é um passo dado, rumo ao melhoramento pessoal... Bom, se é assim, de fato, ainda falta muito para eu chegar lá, mas pelo menos, já consegui dar o ponto de partida. Erro muito sim, mas hoje, pelo menos sou capaz de reconhecer meus erros e correr atrás do prejuízo... Tudo bem que o mais prudente, seria não errar, para não ter que correr atrás de nada depois... Mas, me digam, quem não erra nessa vida? Então, correr atrás do prejuízo, imperfeita que sou, ainda é o que posso fazer no momento...  

Taí uma coisa que, há tempos atrás, pra mim seria a morte, mas, que tenho aprendido muito nessa vida ultimamente: Saber engolir o orgulho e pedir desculpas. Agora, não da boca para fora, como vejo muitos fazendo por aí... Se for assim, prefiro nem pedir... Quando chego a pedir desculpas, é porque realmente sinto que me excedi e preciso mudar de atitude e o mais importante, não voltar a cometer os mesmos erros... Agora, quando chego ao ponto de pedir perdão, é porque errei feio e muito feito... E pior... Errei com alguém importante pra mim e que odiaria perder sua amizade ou vê-la magoada por minha causa. É muito ruim sermos feridos, mas também é um sofrimento muito grande magoar a quem amamos... Em meus impulsos, já fiz isso inúmeras vezes... E posso garantir que, se dói em quem é ferido, a culpa por machucar quem não merecia, faz corroer a alma de quem o faz... É uma dor mútua, injusta e que hoje, com um pouco mais de maturidade, percebo ser totalmente desnecessária...

É por essa mesma maturidade, que me arrependo de alguns de meus atos impulsivos do passado e por vezes me pergunto... Pra quê me serviu tanta impulsividade? Por que não pensar no que se faz e no que diz no calor das emoções? As palavras, sejam elas escritas ou faladas, uma vez emitidas, por mais que, da boca, uma hora se calem ou, do papel, em segundos se rasguem, elas batem, transpassam profundamente e não voltam mais... Tanto podem funcionar como um bálsamo, como, na boca, podem ser degustadas como fel... Pode até ser loucura, mas, ao mesmo tempo que me arrependo, sou capaz de agradecer por tudo o que já fiz de errado e pelo tudo o que um dia, de mal, já fizeram comigo... Não agradeço por meus defeitos e por todo sofrimento que causaram a quem amo, mas, por ter conseguido com isso, captar o que ela, a Vida, com os tantos atos errôneos que já cometi, conseguiu me mostrar...

Às vezes me questiono, se de fato, foi a Vida quem conseguiu me fazer enxergar com meus erros, como eu sou na realidade, ou, se fui eu, que nessas minhas andanças errando e acertando, caindo e levantando, ao me ver diante do Espelho, Espelho meu, em nenhum momento me escondi ou me esquivei das respostas que ele me deu, bem na minha cara... Pelo contrário... Quando diante dele, mostrei-me como estava e consegui me ver sem maquiagem, sem máscaras, sem máculas e enfim, me reconheci nessa pessoa errada e repleta de defeitos que sou, mas que, mesmo ainda não tendo chegado nem perto da pessoa que gostaria de ser, pelo menos acredita estar no caminho certo e acumula dentro de si, uma ânsia, uma inquietação e uma vontade enorme de acertar... 
 
Aliesh Santos
Enviado por Aliesh Santos em 06/09/2016
Reeditado em 06/09/2016
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