Geladinhos são realmente saborosos, ninguém contesta.
 
Recordo bem que, em 2004, minha mãe costumava preparar vários geladinhos e tentava vendê-los, porém a rua, pouco movimentada, e a pequena divulgação frustravam seus planos comerciais.
Sempre sobravam muitos geladinhos que a turma da casa não poupava esforços no momento de provar as maravilhas.
 
Em setembro, mês o qual viu a flor abandonar a Terra, o eficiente freezer guardava uma ótima quantidade de geladinhos. Os últimos que ela preparou, tão carinhosamente, ficaram esquecidos e ousaram alcançar o início do ano seguinte.
 
Abrindo o freezer em janeiro, verifiquei os geladinhos solitários e concluí que, cedo ou tarde, seria inevitável eles deixarem de existir.
A sensação trazia emoção e permitia absorver a grande lição da vida realçando o quanto tudo é efêmero.
 
O sabor de coco, um dos preferidos de mainha, também sumiria.
Eu percebia os geladinhos resistindo bastante. Por que não aceitavam a implacável sorte e o tempo escolhendo trocar a pura criatividade pela dura saudade?
 
Nutrindo essas reflexões provei os destemidos geladinhos que restavam, lastimando o fim, querendo um pouco mais, o intenso afeto, como um milagre imenso, perto.
 
* Incrível! Os geladinhos recusavam partir, disseram que ela faz muita falta, não pode a preciosa e meiga lembrança passar, sonha ainda a criança abraçar, jamais verá derreter, o agradável sabor prometo ter, permanece, aquece, parece canção, embala o coração, forma um lindo verso, confesso, ao Universo peço.
 
Queria tanto retomar, ser capaz, repetir
Doce encanto, chamar mainha, paz sentir
 
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Ilmar
Enviado por Ilmar em 13/09/2016
Reeditado em 13/09/2016
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