Irregular

Eu tateei no escuro feito cego querendo te encontrar, feito criança faminta que busca o seio materno, e você estava bem na minha frente, mas eu não podia ver; as lágrimas deixavam minha vista turva, e o teu olhar frio me gelava. Você fingiu que não viu meu desespero em te achar, e até deu uns passos para trás a fim de eu não te alcançar. Eu sei, eu sei que a gente não manda nos sentimentos, eu sei que o mundo é muito mais que nós dois, e que um dia isso vai repousar no passado, mas eu não sei atuar, não sei fingir ou disfarçar. Não se preocupe, meu ar ainda é suficiente para eu sobreviver por mais uns anos; não precisa devolver o ar que me roubou, eu vou renascer. Não me condene, eu te peço. Não me julgue por não ser o que você quer; não é fácil conjugar verbos irregulares quando você não entende quase nada da minha língua.

Estava bem embaixo do meu nariz a chance de ser feliz, mas eu desperdicei. Pois eu deixei pegadas de lama no caminho que percorri, e voltei para apagar os rastros. Logo quando aprendi a me pôr em armaduras você surge assim tão magnético, e me despe como quem desmonta um brinquedo... e ironicamente brinca comigo! Pelo menos agora eu espero ter aprendido, não se insiste no que não for certo. Mas eu ainda não aprendi a interpretar papéis. Desisto, sim; e não é vergonha nenhuma desistir, deixar para trás o que não acrescenta e voltar a sorrir... esperar é para quem tem esperanças, as minhas morreram quando mergulhei em ti e você evaporou.

Um drinque bem forte para brindar a minha esquizofrenia: qualquer coisa tão forte quanto absinto e uma dose de amor-próprio, quero me embebedar disso. E depois dançar ao ritmo do que eu bem entender. Tome um gole do que me faz bem também, e você verá! Porque agora eu vejo quem realmente importa do meu lado: ninguém. Cansei de carregar os tijolos para construir fortalezas alheias, se sempre vêm demolir por não ter vontades e caprichos atendidos. Agora, eu apenas construo pontes para chegar até o outro lado, mas sem espaço para mais ninguém. O sol se pôs, mas ele me aguardar para gente renascer juntos.

Rodrigo Amoreira
Enviado por Rodrigo Amoreira em 25/09/2016
Código do texto: T5771555
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