Minha Irmã Lourdes

O meu cachorro, Black, morreu. Um dia eu também morrerei. O Black era o cachorro de minha irmã Lourdes. Minha irmã morreu e me deixou de herança o cachorro e dois garotos. Eu sentia saudade de minha irmã. Ela todos os dias me fazia duas visitas. Uma pela manhã, antes de eu ir para o trabalho e outra no final da tarde, quando trazia um pão quentinho, para tomarmos Um café juntas. Eu tinha que fazer o café, então sentávamos e conversávamos.Tudo tem seu tempo. Depois da morte de minha irmã, continuo a esperar as visitas nas mesmas horas. No inicio e por muito tempo, eu saia comprava o pão, fazia o café, e tomava sozinha. E também chorava bastante. Depois eu parei. Nos horários que ela estava para chegar sem nem refletir eu abria o portão e olhava para a rua. Muitas vezes me peguei vendo ela vindo com a sacola de pão na mão. A minha vizinha muitas vezes me pegou chorando olhando para a rua. Tudo estava muito difícil e alguma coisa dentro de mim morreu com ela. Ela estava doente e ela sabia que iria morrer. Ela era muito engraçada e muitas vezes fez muitas piadas sobre a morte, deu muitas risadas e me fazia rir. Morava a uns dois quarteirões de mim. As vezes vinha até com febre mais não deixava de vir. E eu tinha que passar a noite em torno das 20 horas na casa dela. Se eu não fosse ela ligava. Estou te esperando. Se você não vier não vou dormir. Eu ia. Conversávamos. Ela me fazia tomar um prato de sopa e nos despedíamos com um até amanhã. Suas conversas eram dinâmicas, engraçadas. levantava o humor, a vida, as necessidades de uma forma muito interessante. Muitas vezes me disse: Eu não acredito em nada depois da morte. Não tenho medo de morrer. E eu dizia: Eu acredito que vive-se melhor depois de morto, se precisar carregar um corpo doente.Ela ria e retrucava: Você acredita mesmo? Pois se eu morrer vou vir confirmar para você se existe algo após morte. Você não vai ter medo? Eu dizia: Não terei medo de você. Por favor só não mande pessoas estranhas virem me dar notícias. Venha você mesma.

Algumas vezes eu precisava viajar a trabalho. Ela me dizia: Não demore muito. Não quero morrer sozinha. Quanto tempo vai demorar? Respondi: Acredito que uma semana.

Numa certa viagem, tive que levar minha neta , que morava comigo, os pais estavam no japão e para me ajudar meu marido foi junto por causa da criança. Ela me ligava todo dia. Volte logo, não demore muito, esta perto, estou sentindo que vou morrer e quero você aqui. Por favor eu não posso voltar logo, estou fazendo um curso referente ao meu trabalho. Na segunda semana em um sexta feira a noite. As 20 horas, minha neta de três anos escreveu na parede do quarto com um lápis grafite. Amo você. Ela morreu. Papai.

Estava na cozinha da casa de minha filha com o meu marido. Quando pedi para ver a neta pois o silêncio era grande e ele me chama. Venha aqui, venha vê. Ela estava escrevendo com a letra de meu pai.

Teresa Cristina Monteiro
Enviado por Teresa Cristina Monteiro em 05/10/2016
Reeditado em 05/10/2016
Código do texto: T5782018
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