Pronto para, em condições de...

Pelo Todo, para ele e por ele. Na busca da minha individuação que o desenho da personalidade propõe, fui dirigida para dentro. Na desconstrução imergi, levada aos grupos e subgrupos: sistemas, órgãos, moléculas e células. Fiquei de longe observando a dança dos átomos, e neles o vazio foi apresentado. No núcleo de um deles acendeu a luz, palco da atuação dos indomesticáveis: íons, neutrons e elétrons . Pensava que ficava por aí a arte . Aumentando o “zoom” da visão, vi a execução dos construtores de base, hádrons, e mais adiante seus estruturadores quarks. Perdi a noção matemática .

Neste novo mundo a realidade se revelou pelo não revelar, deixou a essência órfã de significado. Desmantelada foi a luz, fótons interagindo como caminhoneiros transportando liga, partículas de luz sem rosto. Coisa de mágico isso!

Se alimento, é da terra que vem o pão, se o sangue sai limpo nas veias, é devido a carvoeira pulmonar fazer a queima dos dejetos. O que seria meu corpo sem os orifícios, os de cima respirando ar sem origem, outros dois levando som ao cérebro, além do principal viabilizando o comer e o sair da voz da alma. Além de tudo vejo pelos outros dois aquela discriminação de toda essa parafernália com a autorização e discernimento permitido pela luz.

Logo embaixo, os dois últimos de saída, levando outros detritos mais densos, tudo para deixar a casa limpa, varrida.

Daqui da cidade dirijo o olhar para estados, países, nações e planetas. Apresentam-se galáxias e o Universo, o macro não cessa de se revelar. Cai sempre nele; vazio, sem núcleo, cerne ou origem.

Sou do Todo, para ele e por ele. O reverencio, me prosto diante da façanha que leva ao Inominável . Quando colocarem latinha amarrada ao rabo da minha pipa impedindo-a de ir longe, é na compreensão que pretendo buscar refúgio. No curso dos dias me lanço ao aprender na escola que é a vida. Mesmo não voando não importarei porque ela não poderá ir lá e acolá. Aqui na intimidade sem apoio terei a fenda que permitirá um pouco de descanso por entre a rocha que é o mundo. Contemplando, deliciando... Mesmo na escassez de significação desta colossal irrealidade.

Não somente creio, pressinto que crio isto no Todo. Para ele e por ele.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 31/10/2016
Reeditado em 31/10/2016
Código do texto: T5809021
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