Grito sem Voz

Há mais solidão em mim

Do que em todos os solitários do mundo.

Eu ouço a solidão cantarolando

Em meu peito, no ritmo do

Piano que sai pela caixa de som,

E sua voz é gutural e melodiosa.

Há mais solidão em mim

Do que poderia haver num lugar solitário.

Eu ouço as vozes do mundo

Tagarelando em uníssono, mas

A minha é a única silenciosa;

E até meu silêncio é desritmado.

Há mais solidão em mim

Do que poderia existir se eu mesmo fosse a própria solidão.

Eu ouço palavras em todos os idiomas

E elas me são estranhas.

Sou o último nativo de uma língua morta.

Há tanta solidão em mim

Quanto há estrelas no céu de verão.

E cada meteoro que cruza o firmamento

É como um arauto da bonança;

Uma pedra de gelo envolta em esperança

Pois me sinto como um astronauta

Perdido no espaço; abraçado a um

Satélite, sem contato com outra

Vida, e enviando pedidos de ajuda

Para um vazio que nunca me ouve.