DERRADEIRO

Era uma criança diferente.

Tinha nos olhos a eterna procura,

Como quem sente a ausência e não sabe explicar.

Na boca trazia palavras doces, em um tom de voz tenro e perspicaz.

Como quem sabe e não se contenta com as respostas prontas.

Como alguém que quer, mas não pode alcançar.

Depois do cigarro no cinzeiro,

Um suspiro afoito,

Abriu os braços,

Decidiu voar.

Um voo certeiro, como quem almeja a liberdade,

Como quem busca no fundo a verdade escondida,

O desejo mais profundo, de quem não sabe se achar.

De repente, a procura se cansa de esperar,

E o voo se torna a sentença procurada,

A verdade almejada,

A resposta sem pensar.

Em si, o que ela queria se encontrar.

Lá no céu, o querer afoito,

Na boca um sorriso torto,

De quem sabe o que quer,

Na insegurança de quem não sabe o que esperar.

E o vento no seu rosto era resposta sagrada,

Que a busca vinha lhe mostrar.

Inaudível,

Ela se desprendia de um mundo inteiro,

De sentenças vazias,

A prece que ela não sabia rezar.

Então ela se rendeu ao delírio perfeito,

Um voo raso e certeiro,

Da sacada do parapeito,

Como quem busca o que quer encontrar.

Na garganta sedenta de desejos,

Verbos que não se podiam calar.

Sentia o coração pulsar no peito,

Um sabor azedo,

Era a vida querendo lhe alcançar.

Cerrou os olhos em desespero,

Como um adeus derradeiro,

Como quem quer descansar.

Deixou para trás a janela em segredo,

Uma carta em vermelho,

O pesadelo do qual queria acordar.

No íntimo, ela sabia,

O voo era a saída da vida.

O último erro, então ela iria arriscar.

E num pouso certeiro,

A paz alcançou seu corpo inteiro,

Que se encontra no chão, a repousar.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 24/11/2016
Reeditado em 24/11/2016
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