Diálogo entre o político torpe e o miserável abatido

- Mortos e feridos mais de 500.000.
- Onde?
- Nas últimas manifestações de rua contra o estado de coisas.
- Tamanha desumanização é compreensível...
- Como assim?
- Veja bem, acompanhe meu raciocínio...
- Diga.
- A massa assiste violência na TV, assiste sexo desregrado na internet, assiste enfim, tudo que de mais negativo se produz na sociedade do consumo. Tem transporte de péssima qualidade, tem alimentação gordurosa, igualmente ruim. Vive sem esperança nem noção.
- Sim.
- Depois reinvidica direitos.
- É.
- Mas os direitos que eles reivindicam eles não usufruem nunca.
- E daí?
- Daí que seria necessário dizer: Que diferença faz ter direitos ou não?
- O que?
- Direitos só são direitos quando utilizados. Senão não são direitos. São potenciais direitos. Que de nada servem, no final das contas.
- Não tinha pensado nisso.
- Como é potencial o poder da tecnologia e da ciência para democratizar saúde de boa qualidade, para democratizar transporte justo, acessível e bom, para democratizar educação para todos em todos os níveis, graus e instâncias, para democratizar tudo de bom, enfim...
- É verdade.
- E o que você acha que nós políticos fazemos em tempo eleitoral? Nós prometemos o potencial do sistema, que é praticamente infinito, a tecnologia, a ciência, podem fazer tudo. Portanto, não mentimos, nunca. Nós sempre dizemos a verdade. A massa é que falta com a verdade. Reivindicando direitos que nunca vão usar.
- Olha só. Não tinha pensado nisso mesmo.