Meu natal eternizado
Um fato, em especial, me faz ver está época do ano de forma muito especial.
Antes preciso dizer que nasci e me criei numa comunidade pobre do interior sem nenhuma infraestrutura, inclusive sem energia elétrica.
Não tínhamos, talvez por isso mesmo, árvores enfeitadas. Não escrevíamos cartas para o bom velhinho pedindo presente e, raramente a gente ganhava algum.
Mas teve um natal; deste que quero falar, em que minha mãe estava muito mal. Eu, na inocência de criança queria fazer alguma coisa por ela. Foi a primeira e única vez que fiz uma cartinha para papai Noel. Era curta e pedia apenas que ele salvasse mamãe, sem nenhuma referência aos anos sem presentes.
Na minha ingenuidade coloquei a escrita entre galhos alto de um pé enorme de pera para que ele a encontrasse facilmente.
Na manhã seguinte, acordei com uma chuva torrencial. Mesmo assim, de imediato fui lá ver e a carta não estava mais.
Nossa! Tive a maior certeza que ele havia vindo buscar a carta.
Fui tomado de cheio por uma enorme e, de certa forma, efêmera felicidade. Era a certeza que mamãe seria curada.
Na família, evidentemente havia uma preocupação grande. Lembro que estávamos em lados opostos do fogão a lenha eu e um dos meus irmãos. Fitei-o. estava triste, pensativo.... Esbocei um sorriso e ele retribuiu de forma muito contida e nada nos falamos.
Tive vontade de dizer para que não se preocupasse pois eu já tinha resolvido o problema da doença da mamãe com a minha cartinha.
Ilusão infantil.
Mas há lendas lindas das quais nunca devemos fugir enquanto a ilusão nos seja possível.
Mamãe faleceu dia 02 de janeiro.
Para a criança que eu era aquilo era um enorme castigo. Por algum tempo me revoltei com o velhinho de vermelho e barbas brancas.
Depois de adulto entendi que realmente fui atendido. Pois foi um presente de papai do céu ou de papai Noel, ter a doce e insubstituível presença de mamãe para nosso último natal juntos fisicamente.