Leve
Leve-me os olhos porque minhas lágrimas já não me servem mais;
Leve-me os dentes, porque a carne que mata minha fome esta dura e fria,
Leve-me os lábios, porque o sorriso preso neles anda amarelado com as mazelas da vida,
Leve-me as orelhas, porque a música tornou-se uma marcha fúnebre;
Leve-me o nariz, que aqui só está de enfeite para me lembrar da minha fantasia circense;
Leve-me os braços, enrugados e velhos, flagelados pelo árduo trabalho de sustentação alheia.
Leve-me as mãos, calejadas pela obrigação de aplaudir futilidades.
Leve-me as pernas, arranhadas da lida cotidiana pela sobrevivência dos meus;
Leve-me o sexo, para que eu não caia em tentação e ouse desfrutar do prazer;
Leve-me a alma para que Deus não ouse requisita-la para si;
Por fim, enfim... de tudo me levares...Leve eu hei de ficar.