Moloch

subi a passarela da W. S. e fiquei ali vendo

os carros passarem por baixo e desaparecerem para

ressurgirem pelas minhas costas

eu parecia a única pessoa

sozinha

em toda a cidade

a única pronta para enlouquecer

segurando com força o tendão de sua própria sanidade

presa por um fio

e então eu vi:

janelas

acesas

milhares de janelas

que se estendiam pela noite

como olhos

enormes em condomínios de

trinta andares,

olhos vorazes surgindo na escuridão

das latas de lixo e calçadas

de néon e

aquilo me prendeu a atenção

por um bom tempo

havia uma vivacidade nas ruas de Fortaleza;

não sei se era o sexo ou a

embriaguez

ou as pichações

ou os estupros e assassinatos

mas algo sempre estava acontecendo

às onze da noite.

Arthur Rabelo
Enviado por Arthur Rabelo em 27/01/2017
Código do texto: T5894999
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