faróis no trânsito

Fortaleza se ergue em milhares de janelas acesas durante

a noite febril como olhos caídos

no meio da noite,

onde os desejos infames se unem

às intermináveis taças embebidas

de uísques caros e o sexo a vapor

ardendo pela madrugada

com a sujeira dos esgotos que

marcam suas bolas de futebol

em meio às favelas que crescem desordenadas

empilhando-se em linhas tortas

que afundam seu reflexo na margem do rio negro,

as ruas escuras e mal-iluminadas discorrendo

o medo como células embriagadas de heroína

correndo pelas veias em telas de filmes pornô na madrugada

ácida onde moram os corrompidos

e os desajustados,

a vista do horizonte se perde no deserto de prédios comerciais

de pessoas nervosas em ternos quentes

e óculos escuros, que trocam suas almas por gravatas,

suas cabeças girando como ponteiros

loucos e mecanizados giram em um relógio

em andares apressados, sem ver o mundo acabar

ao seu lado, sem ver as mãos de suas

crianças que circulam

de ônibus em ônibus em busca de qualquer

coisa que mate sua fome

de viver, sua tragédia, seus olhares cansados

e doentes e dentes rotos

e o sabor infame da Virgem Morte em seus lábios

que perambulam como almas perdidas com seus batons

borrados na Beira-Mar,

correndo como lobos em avenidas e becos estreitos onde não moram

a Dona Clemência nem a Santa Dignidade

que vivem com medo escondidas sob os telhados

que chovem todos os dias

corpos desencarnados e almas desalmadas

desaparecendo como pó sob o nariz de um

garoto de 13 anos.

Arthur Rabelo
Enviado por Arthur Rabelo em 28/01/2017
Código do texto: T5895648
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