um para Charles
cavalos cavalos e bebidas e bebidas
e mulheres
a voz rouca silencia-se em meio
às outras vozes roucas
restos de vômito no chão
quando abre-se
a cortina
as lágrimas do piano
e do saxofone sujo ecoam
um coração pulsante e solitário
que segue
arrancando paixões de amantes roubadas
amores fajutos
penitenciárias
esquinas corroídas
e bancos
de praça.
cavalos e cavalos e bebidas e mulheres
e mulheres
não temos muito tempo para viver
mas temos tempo de sobra
para beber.
a cidade nunca acorda para ouvir
o grito
dos loucos
eles estão em todos os bares
todas as brigas
todos os becos
todos os quartos vazios
todas as janelas tristes
e em todos os poemas
esperando uma dose ácida
para recuperar sua humanidade
estamos desesperados
não sabemos para onde ir
mas se Charles Bukowski um dia me ensinou alguma coisa
foi que um homem é capaz
de passar por cima de tudo
desde que saiba o momento certo de parar
quantos de nós já não pensaram em suicídio
pelo menos uma vez ao dia?
o maior problema da maioria das pessoas
não é o que os outros exigem que elas sejam
mas sim o que elas exigem de si mesmas
elas perdem suas forças tentando
se comportar
à altura da imagem que criaram
qual o preço da vida?
a solidão.
fecha-se a cortina.