um para Charles

cavalos cavalos e bebidas e bebidas

e mulheres

a voz rouca silencia-se em meio

às outras vozes roucas

restos de vômito no chão

quando abre-se

a cortina

as lágrimas do piano

e do saxofone sujo ecoam

um coração pulsante e solitário

que segue

arrancando paixões de amantes roubadas

amores fajutos

penitenciárias

esquinas corroídas

e bancos

de praça.

cavalos e cavalos e bebidas e mulheres

e mulheres

não temos muito tempo para viver

mas temos tempo de sobra

para beber.

a cidade nunca acorda para ouvir

o grito

dos loucos

eles estão em todos os bares

todas as brigas

todos os becos

todos os quartos vazios

todas as janelas tristes

e em todos os poemas

esperando uma dose ácida

para recuperar sua humanidade

estamos desesperados

não sabemos para onde ir

mas se Charles Bukowski um dia me ensinou alguma coisa

foi que um homem é capaz

de passar por cima de tudo

desde que saiba o momento certo de parar

quantos de nós já não pensaram em suicídio

pelo menos uma vez ao dia?

o maior problema da maioria das pessoas

não é o que os outros exigem que elas sejam

mas sim o que elas exigem de si mesmas

elas perdem suas forças tentando

se comportar

à altura da imagem que criaram

qual o preço da vida?

a solidão.

fecha-se a cortina.

Arthur Rabelo
Enviado por Arthur Rabelo em 29/01/2017
Código do texto: T5896506
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