Fim de expediente!

Era uma vez, entre tantas outras vezes,

um balé de pernas apressadas,

atrasadas para o bonde, onde tantas outras estavam.

Escola, serviço, entrevista.

Na bolsa, a revista anti-tédio.

Na janela, o prédio pichado em dizeres,

protesto morto em tinta, manifesto.

O tropel seguia pelos viadutos,

invadia os escritórios, casas, hospitais,

esses tais vícios dos ofícios de vida.

A fome e a saída para o almoço,

prato feito, refeito todos os dias

e algumas fatias de pão para o arremate,

enquanto isso, o engraxate capricha no sapato,

observando o prato já quase desfeito.

Trocado, gorjeta, cafezinho

e o cadinho-mundaréu marcha de volta ao quartel.

Duplicata, contracheque, memorando,

conversa paralela, telefone tocando.

Fim de expediente!

Era uma vez, entre tantas outras vezes,

um balé de pernas apressadas,

atrasadas para o bonde, onde tantas outras estavam.

Casa, curso, faculdade.

Na expressão, cansaço de verdade.

Na mochila, sanduíche entre os cadernos,

em caso de emergêcia, retire o papel alumínio.

Quase impossível evitar o declínio do ânimo,

dormir na aula, romper a jaula e prisões da rotina.

De regresso, gravata e vestido postos a escanteio.

O pijama espera o recheio para o merecido recesso.

No esplendor do berço, um terço do dia será gasto,

sem ouvir o som do mar e a luz do céu profundo.

O sonho que se tem faz até cair da cama

e a noite de calor ensandecida,

se esvai com odor de inseticida.

De que vale o canto de um velho galo aposentado

contra o apito esganiçado do rádio-relógio?

Foi-se então o amontoado de penas ter com suas safenas.

Fim de expediente!

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 02/08/2007
Código do texto: T590344
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