CONFISSÕES...

Já fiquei com vergonha da minha mãe na hora de abraçá-la. Nunca abracei forte meu pai com vergonha da vergonha que ia sentir. Já quebrei o braço de um menino jogando bola. Nunca fui bom em fazer bola de chiclete, sempre fui um careta e nunca fiz careta na frente do espelho.

Nunca sabia bem das brincadeiras e me deixavam de fora. Sempre quis ser cantor, mas desafino até na hora de aplaudir. Já quis ser tudo, desde que rendesse muito dinheiro. Já pensei estar apaixonado por coleguinha de sala. Já fui bagunceiro na escola, mas só tirava nota boa.

Já toquei campainha depois disparava ladeira abaixo. Já andei de bicicleta velha me achando o máximo. Já tomei jurubeba (adquirida com moedas de cada um dos colegas de aula), sentado no meio-fio cantando moda sertaneja. Já confundi namorico com paixão verdadeira. Já roubei pão que ficava dependurado em sacolas nos portões, mas nunca roubei beijo de menina que não quisesse beijar-me.

Nunca me aventurei por estradas desconhecidas, nem gosto muito de atalhos. Prefiro o arroz meio queimado do fundo da panela, ou fazer uma misturada do pouquinho de tudo que sobrou. Nunca deixei que me vissem chorando, nunca deixei que uma pessoa se tornasse a mais importante de tudo, já percebi que algumas são quase impossíveis de se esquecer, mas procuro ficar sempre no comando das ações.

Já fiquei em silêncio namorando estrelas, já deixei de roubar frutas pela altura das árvores, nunca chorei escondido no banheiro, nem rabisquei muros de escolas, já jurei e não cumpri, já amei e já esqueci, nunca esqueci quem pensava que nem amava. Jamais pensei em fugir, volto sempre antes do previsto ou no dia marcado. Já saí de perto pra não ver alguém chorando, já fiz que não visse quem não queria ver. Quantas vezes senti sozinho rodeado de gente, quantas vezes no meio de mil queria apenas uma pessoa.

Já fiquei namorando por do sol, já imaginei quem os pintou naqueles tons, já chorei de medo do escuro, já tropecei nas palavras por causa de nervoso, já bebi até da vontade de morrer, já saí andando pela cidade sem saber aonde ir... Já pensei que estava amando e amor não havia nada, já pedi para alguém especial que morreu voltar pelo menos por um dia.

Já acordei de madrugada para ouvir música bem baixinha, já joguei bola na rua, já pulei dentro do cemitério para beber vodca, sentado num túmulo. Poucas vezes senti muita felicidade, poucas vezes fiquei muito triste. Nunca gostei de receber rosas, acho que é pelo olhar das pessoas à volta, já beijei e pensei querer pra sempre aquele beijo, depois percebi que não me fazia falta.

Gosto de olhar a lua até que seja expulsa pelo sol, não gosto de ver amigos partindo, não tem uma única pessoa da qual eu sinta ódio. Nunca senti amor tão forte igual ao que sentimos por filhos, nem os filhos saberão, enquanto não tiverem filhos, como devem amar aos pais. Apenas aprendi que a cada novo dia, temos a chance de fazer melhor, de querer com mais afinco, de sorrir mais, de se estressar menos... E nunca perdermos tempo odiando coisas bobas e insignificantes, não se leve tão a sério!

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 14/02/2017
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