Marítimo

Mar. Tão vasto é o mar. E as ondas, quando quebram, lançam nuvens de espuma. Sou peixe fora d'água. Isso explana o intenso anseio de estar sempre na praia. Mergulhando, mergulhando, mergulhando, mergulhando. Quando entro no mar é como se por um momento eu fosse membro dele. É uma sensação boa. O oceano se regenera sempre, isso é uma lição e tanto. Certa vez uma sereia me abordou. A praia estava cheia, mas somente eu a vi. Na época eu era um menino de 5 anos ainda mais autista do que hoje. Ela foi até mim, sorriu, disse que meus olhos precisavam de alegria pois detinham vitórias da luz. Deu-me um beijo no rosto, foi andando até a beira, a cauda ressurgiu, nadou mar adentro e foi desbotando, desbotando, desbotando, até sumir.. Meu pai me bateu pois não fiz lição de casa. Era um dever de matemática. Será que sereias lidam com números? Eu detesto. Números lembram dinheiro. Dinheiro lembra emprego e estou sempre buscando algum. No fim das contas o que me sobra é a formosura das artes, que pra muitos, a fraqueza da alma.

Cristiano Corrêa
Enviado por Cristiano Corrêa em 05/03/2017
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