A Mulher Ideal
A natureza desenhou um corpo perfeito e deu-lhe de presente, sem nada pedir em troca. A boca é de estrela hollywoodiana. Às vezes é rebelde, quando não consegue convencer o namorado para jantar na Rua 46 em Nova Iorque.
É inocente e sensual como a serpente no paraíso de Adão. Tudo parece perfeito; mesmo assim, desespera-se; quebra espelhos nos hotéis onde se hospeda, atira pelas janelas as caixas de maquiagem. Acorda de salto alto, cílios postiços e batom borrado.
O trânsito é vagaroso. Fica nervosa. Num outdoor, lê a frase - Procura-se a mulher ideal.
Esquece o carro no estacionamento do shopping. Caminha a passos largos. Ouve assobios dos flanelinhas e dos motoristas de táxi. É indiferente a tudo. Solta os cabelos, abotoa o casaco estampado de flores.
“Ela é louca, tem a cadência dos passos das atriz dos filmes Godard” - Gritam nos bares e no oitavo andar do edifício onde mora.
Embriaga-se na primeira esquina. Bebe rum com limão. Imagina-se embriagada num pub londrino. Tira da bolsa um livro de Simone Beauvoir.