[Carta a um amor cósmico]

A simples marcha do outono, uma lufada de vento frio — é o que basta para que uma cena do filme, isto é, do filme de você e eu comece a passar...

E passa o filme... Naquela madrugada, no canteiro central daquela avenida, nada, nada mais nos importava, a algazarra de uns jovens bêbados, os carros, o frio cortante.... fomos envolvidos numa misteriosa onda cósmica, como se o amor tivesse atravessado séculos até pousar suas asas sobre nós. Por que ali, por que naquele lugar.... Não sei. Mistério.

Havia uma certeza no meu íntimo — ainda que nos separássemos, [transtemporalizo: ainda que de fato separados], eu senti que aquela noite nossa, seria para sempre, para sempre. E assim foi, assim é, assim será. Morrerei com a imagem, com a sensação maravilhosa daquele amor cósmico, transcendental, vindo naquela fria madrugada até nós.

Por isso, tantos anos depois, os meus olhos veem nitidamente este filme... E descubro que o rumor distante da estrada leva o meu pensamento até você, até aquela noite, na suavidade dos ventos deste outono... Outra vez!

Agora, só estes olhos úmidos, este choro silencioso. Não, não me perdoes, não me perdoes nunca! — eu não estive à altura de tanto amor!

A unidade da mente e do corpo é o grande mistério da vida — é coisa para sentir, não para analisar, penso... Escrever não me alivia, apenas me ajuda a chorar calmamente.

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[Desterro, madrugada de 11 de abril de 2017, às 05h14]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 11/04/2017
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