Resmungo na noite

Sempre que tenho dificuldades para escrever,

e isso é quase sempre, pego o livro do velho Buk

e leio alguns poemas.

Nas entrelinhas,

ouço meio que um resmungo.

A voz de um velho zangado dizendo:

Basta ser sincero caralho!

E não ficar rodeando os sentimentos,

buscando palavras bonitas

para dourar a pílula.

Escreva como quem conversa

com um amigo no bar.

Sincero, direto, sem gritar,

Mas se quiser gritar,

grite baixo.

É isso! É isso.

Pensei.

Puta vida !

Ficar sozinho é foda cara!

E existe quem prefira.

Eu não.

Qual é a vantagem?

Cagar com a porta do banheiro aberta?

Deixar os pratos para lavar no dia seguinte e

comer pizza requentada?

Dormir abraçado com o travesseiro?

Ouvir música clássica em alto volume?

Não,! Não, isso até que é bom.

Relaxo,

e me ponho a ouvir o barulho da chuva.

A chuva usa diferentes tons voz,

um para cada elemento.

Seu tom de conversa com as folhas do Antúrio é um,

quando ela cai dos altos ramos da árvore

nas folhas da banana de macaco é outro;

Seu tom intermitente no telhado faz dormir e sonhar.

Em forma goteiras a chuva usa tons mais graves,

Baixo tenor,

especialmente na tampa dos baldes do lixo.

Parece o trotar de um cavalo atravessando a noite.

Um coral com centenas de vozes.

A chuva me faz esquecer do livro do velho Bukowski,