ÁRVORE FRONDOSA.

Te conheci como a uma planta pequena, recém-plantada no campo. Notei tuas folhas. Elas balançavam, tímidas, com o simples sopro dos ventos.

Ali, num canto, rodeado de grandes árvores frondosas, por ninguém era notado. Pois, ainda não era grande o bastante para reter acima de ti a luz do sol e ser o refrigério para quem viesse se abrigar debaixo de tua sombra. Eu, que também timidamente crescia, aprendia a ser viajante por terras longínquas nas quais, por acaso, avistei você. E foi com um profundo encanto que te admirei porque distinto tu eras entre as sementes que daquele solo fértil germinou.

Tão logo brotava e notei as folhas novas que de ti surgiram. Temi. Confesso. Receei teu crescimento. Pois, sabia que, ao longo do tempo, grande árvore frondosa também irias se tornar. Queria, em meu desejo egoísta, reter a pequena planta – para mim tão formosa! – de se desenvolver. Temia porque em outros campos foi plantado e distante das cercas do meu jardim estavas. Mas, não podemos controlar o tempo, ele segue e as coisas evoluem.

Hoje és tu uma grande árvore. A mais notável entre as árvores novas. Ao longe avistam-te no horizonte e para o alto é o teu crescimento, sempre constante. Hoje a tua sombra a muitos se estende. Uns buscam nela o alivio do calor do sol em que tu, com prudência, soubestes reter. Outros, buscam apenas os frutos saborosos produzidos por ti.

E como poderei justificar o desejo que também possuo de chegar, assim, tão perto? Acreditarias em meu intento? Eu, semelhante a um pássaro viajante, desde muitos anos alcei voo para longe do meu mundo, quando te avistei crescendo nessas terras tão longínquas, neste solo tão distante!

Estou aqui, retomei o caminho e te reencontrei. Soube que apesar de grandes ramos continua solitário. Eu desfiz o meu jardim – sabia? – e abaixo de tua sombra também quero um descanso. Quero, porém, muito mais. Algo mais e algo menos. Quero somente estar contigo e, por isso, destes teus frutos me abstenho. Escolho apenas abraçar-te e me sentar sobre as tuas raízes. Se for para subir, por meio de ti, que seja apenas para ver o pôr do sol ao teu lado. Sim! Pois, o amor não tem nenhum interesse exceto aquele que é em si inexplicável.

Estou, no entanto, consciente de que, se não me notava nos tempos de outrora, por certo não me notaria neste tempo. O mesmo tempo que fez de ti esta árvore frondosa alicerçada em terra firme, fez de mim este ser viajante, ora caminhante, ora voando, como um pássaro, em busca de um recanto.

Jaildes Ferreira
Enviado por Jaildes Ferreira em 27/04/2017
Reeditado em 02/10/2017
Código do texto: T5982289
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