O EU

Fiz uma longa incursão ao mais profundo do meu eu, tentando desvendar aquilo que me era mais íntimo e ao mesmo tempo tão incógnito. Mas tudo que encontrei foram espessas paredes, gélidas e sombrias, delineando labirintos cujas saídas coincidiam com o ponto de partida.

Procurei nos antigos pergaminhos significado para os símbolos que surgiam em meus delírios. Revirei os velhos baús enterrados nas dunas, mesmo sabendo que os tesouros já haviam sido subtraídos. Tomei o caminho contrário, cruzando a rebentação em busca da ilha deserta. Entrei mata adentro procurando a trilha perdida. Tranquei as portas, fechei as janelas e desci as cortinas, mesmo com o céu tomado pelas nuvens cinzentas. E deitado sozinho no chão escuro, esperava no fim que a luz do farol surgisse como guia.

Não obtive respostas. Não acertei o caminho. Sentei à margem do rio revolto enquanto a grande balsa fazia a travessia. Vi as pétalas despencarem das flores do nosso jardim. E os ventos do outono as levaram para muito distante.

A verdade é que estive durante anos perdido em algum lugar remoto, cercado de tudo que me era vago e estranho. E depois de todo esse tempo, acordei de repente diante de um espelho, cujo reflexo é um semblante que eu simplesmente desconheço.