Aquiescência

Viver é uma ironia, na medida em que a voz dos sábios soa dissonante ante o escárnio dos indiferentes. Não reina nenhum outro tipo de ordem intelectual nesse plano onírico, apenas a comédia.

Seria até um martírio se não fosse lugar-comum passar despercebido pelas vias intransponíveis da fibra ótica.

Quando a pessoalidade perde sua autêntica natureza tudo se torna áspero, anacrônico e sem direção; a existência subjetiva é quase diluída no todo dinâmico, inconstante, impessoal.

Por vezes, sentir o peso da responsabilidade é uma anátema; ouvir o turbilhão de vozes vazias ecoando ásperas, frívolas e calar-se; ver o declínio dos homens e agir com displicência, quase encaminhado ao mesmo fadário.

A vida toma à força a coragem, acovarda, aliena... não se vive!

O retumbante questionamento reverbera sem resposta.

Tudo é fim, tudo é meio, tudo é neutro, sem direção, inócuo.

Pesa na carne já em decomposição o langor da injustiça, o resquício do tempo decomposto em palavras estéreis, a aquiescência daquele que vislumbrou o miasma e o fétido aroma da perdição na terra e, improlífico, catatônico, foi corrompido pela banalidade do silêncio.

Marcell Diniz
Enviado por Marcell Diniz em 27/06/2017
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