SINGULARIDADE ("Quanto mais inteligente um homem é, mais originalidade encontra nos outros. Os medíocres acham que todos são iguais." — Blaise Pascal)

Um homem globalizado é inútil por ser diluído em muitas vertentes, Tem-se de ter um ponto forte para ser procurado por ele. "O ar tinha gosto de sábado. E de súbito os dois eram raros, a raridade no ar. Eles se sentiam raros, não fazendo parte das mil pessoas que andavam pelas ruas. Os dois às vezes eram coniventes, tinham uma vida secreta porque ninguém os compreenderia. E mesmo porque os raros são perseguidos pelo povo que não tolera a insultante ofensa dos que se diferenciavam." (Clarice Lispector). Pela raridade, o preço aumenta!

Há uma discriminação que é saudável, aquela que valoriza as diferenças. Eu sou um discriminador assim, e gostaria de ser discriminado para fazer parte da preciosa diversidade. "A preciosidade humana se revela no olhar, nos valores, nos pensamentos, nos sentimentos, no caráter."(Eduardo Marinho).

Foi sugerida uma dinâmica: O presente! A equipe gestora fazendo a recepção dos professores no primeiro dia do calendário letivo. Mas, essa dinâmica era a prática da outra discriminação, a deprimente. A mesma consistia no disfarce em reconhecer as virtudes e as qualidades das pessoas. Então, o presente passava-se para quem... o de posse do mesmo achava o mais alegre do grupo. Este, por sua vez, recebia o pacote em meio aplausos e passava para quem ele achava o mais inteligente. Este, por sua vez, também, dava continuidade ao ritual macabro, passando-o para quem lhe transmitia paz. E o presente rodou por quem achavam amigo; dinâmico; solidário; elegante; otimista; competente; amoroso; prestativo; fervoroso; líder; justo. Eu já estava desesperado, era um grupo pequeno e o presente já passou pela mão de todos e nada de acharem alguma qualidade em mim. Até que enfim, uma funcionária da limpeza, com quem não tinha muito contato, queria passar o presente para mim, quando a dirigente gritou que ela devia passá-lo para quem achasse ser artista. Finalmente, pude tocá-lo! Então encaminhei, segundo a ordem, quando a dirigente da dinâmica pediu-me que procurasse quem mais tinha fé ali. Não que eu tenha algum termômetro de medir fé, baseei-me na amizade. Depois disto concluí que não devia ficar triste, pois não se vê qualidade em quem a gente não gosta. E o meu problema ali era falar "muito". Lembrei-me de Martin Luther King: "Para ter inimigos, não precisa declarar guerra, apenas diga o que pensa." Confortei-me com a certeza de que ninguém é totalmente desprezível, conferindo as palavras de Albert Einstein: "A única coisa de que tenho certeza é da singularidade do indivíduo."

Reconheça quem já conhece.