Palavrass soltass (Fantasia metapoética)

Sinto vontade de escrever...Escrever qualquer coisa! “Qualquer coisa”, é o que escrevo. “Estou num dilema”, é o que sinto e naturalmente escrevo. Na verdade não estou num dilema, é apenas pretexto para escrever. Bem, agora já estou sem assunto...

Vamos ver: ” Milhões de pessoas...” são palavras que traduzem uma ideia mas, novamente, não as completo. Aí estão, transcritas no papel já tão rabiscado de palavras sem nexo!

Que faço? ”Malária, cachorro, pulga campanha...” Palavras, mais palavras, soltas, desconexas...”Rato, nostalgia, saudade, quatro...”

Que fazer... Não as controlo. Elas surgem naturalmente ...”Avião, submarino...” numa pura verborragia.

“Boi, primitivo, mulher...”Ainda bem por esta.

“Penso” é apenas uma palavra solta, porque não penso; as palavras “palavras, trabalham, atrapalham...” atropelam-se entre o que querem dizer e o que dizem. Nada controla ”rádio, casa, vida” o meu cérebro; ele trabalha, celeremente, e não dá tempo das palavras “gafanhoto, rio..” se coordenarem.

“Vou controlar-me...”é apenas uma construção sem sentido, porque são elas que dominam.

-Pára, sustenta as palavras, coordene-as!! É o meu grito de desafogo, censurando a mim mesmo...

-!

-Ora, salve, até que enfim!

-Até que enfim, o quê. Não entendi!

-Parece que enfim você se controlou, cérebro. De qualquer maneira

me desculpe... Eu não quis...

-Não quis o quê? Quem é que você está pensando que é?

-Perdão. Eu não penso. Quem pensa é o senhor.

-Exatamente! Sou eu, por isso ponha-se no seu lugar enquanto divago com as minhas palavras... soltas.

-Naturalmente, Excelência. Claro!

-“Caminhão, cáspite, melancia, tipacoema, verborreia...”

-!