Dos Ícaros II, O Ensaio

Costumava ir às praças. Fazia púlpito dos canteiros. E dizia, apaixonadamente, em meio às flores, em meio à gente: não é o limite o céu, não é o limite. Pois que céu? Céu não há, não há! Há estas flores e há paixão e há sonho além dos céus. Há verdade além dos céus e há luz. Uma luz, uma verdade. Sonho.

Tendo subido além dos céus que não havia, além das gentes, ele viu a luz branca da verdade refratar-se numa gota de garoa. E a luz branca da verdade se quebrou em feixes. E viu a verdade vermelha e laranja e amarela e verde e azul e violeta. (E não viu que o calor das verdades derretia seu par de asas - que eram de cera e não eram de verdade.)

E caiu aquém dos céus que não havia.

2007, 15 Ago