Transbordar
Poderia, outra vez, falar de amor,
Tentar descrevê-lo em verso e prosa,
Como quem explica o perfume da rosa
Ou diz do gosto de ver o sol se pôr.
Mas amor não tem tradução,
Não tem manual, nem cartilha,
Não se troca na freira, não se partilha
Como quem corta um pedaço de pão.
Ainda assim cabe em todo idioma,
E quanto mais se dá mais se tem.
Se divide sem perda entre dez, entre cem
Pois nunca é fração, sempre soma.
Quando falo de amor, agora, é assim,
Espalhando em palavras sua essência,
Pedindo, ao leitor, perdão... paciência...
Porque ele transborda de mim.
Não cabe no peito, no corpo, na alma,
Vai derramando pelo caminho,
Tira pedra, arranca espinho,
Refresca e esquenta, agita e acalma.
Tanto me acerta quanto desajuíza,
Toma conta de tudo, me leva, me faz,
Arranca o sossego e me enche de paz.
E salta da boca em seu nome: Luisa.
Poderia, outra vez... falar, e falar...
Mas nem com todas as letras do mundo
Explicaria como um sentir tão profundo
Cabe inteiro num olhar.