Presenteado

Tanto já se vai desde que passei a sonhar.

Anos passaram e com eles tanto ficou pra trás,

Preso entre as desilusões amorosas

E a pouca percepção dos meus próprios erros.

Foram precisos encontros e desencontros,

Encantos e desencantos,

Esforços em vão na eterna causa do amor

Para preparar o meu antes cansado coração

Ao derradeiro momento da minha razão.

Num já citado lapso temporal,

Numa fenda cósmica universal,

Você surgiu como um primeiro raio da manhã,

Que chega após anos luz viajando no espaço

Mas que nos toca tão profunda quanto inesperadamente,

Que remexe o fundo e ecoa na alma,

Que renova, revigora, reaquece e refaz.

Você juntou os pedaços que eram dor

E não só os transformou em paz

Como os uniu em uma nova forma

Redesenhando, redefinindo, reinventando

Tudo o que me acostumei a chamar amor.

Por isso e por toda alegria que tenho,

Que explode em mim a cada palavra sua,

Pelo brilho que meus olhos não disfarçam mais,

Ao vislumbrarem seu rosto no horizonte,

Pelo sorriso que não mais se esconde

E que extrapola os limites da boca sem pudor,

Sempre que me reabrigo em seu abraço quente,

Por todo sentido, toda pele, todo suor,

Todo gosto, toda saliva, todo calor,

Por todo prazer, todo deleite, todo carinho,

Toda conversa, todos os planos, todos os dias,

Por cada cuidado, cada afago, cada colo,

Por cada amigo, cada parente, toda família,

Tudo que aprendo, que ensino, que nos define,

Sem pressa, sem medo, sem limite ou barreira,

Por seu amor, por me amar e permitir que a ame tanto,

Por tudo o que não cabe e nem precisa ser dito,

Mesmo que você seja a razão de toda festa

E quem mais merece receber as honras,

Eu sou o grande presenteado,

Porque nada se compara

Ao que sinto neste exato momento,

Enquanto a vejo dormir em silêncio

Sem saber o quanto me leva outra vez a sonhar.