Só o tempo e as horas...

(Claude Bloc)

Nem sei se aquelas palavras que eu ia relendo ali enrodilhadas nas linhas do meu caderno eram minhas de fato. Não sei. As palavras me hipnotizavam, encantavam e aquelas me intrigavam certamente, aquelas que ali estavam no papel, dispostas harmoniosamente fazendo parte do meu texto. 

Não as reconheci numa primeira releitura. Pareciam emergir de algum sonho, mas se acomodavam pelo texto contando minha história com detalhes, porém soavam de uma maneira diferente.

Perguntei-me se havia lido demais a história dos outros, dos grandes autores, dos grandes romances. Se isso e aquilo haveria entrado nesse contexto sem minha permissão. Mas aí a coisa perderia o nexo. Tinham que ser minhas as palavras. E aquelas em especial.

É que quando escrevo me debruço sobre a vida e faço das palavras um portador dos meus sentimentos/pensamentos. Mas aquele meu último texto achei muito simples, com poucas palavras e por essa razão, senti uma enorme solidão, um vazio, como se algumas palavras tivessem me abandonado.

“As palavras me deixaram”, pensei. Tenho que procurá-las em outros textos, em outras poesias, em outros contextos. Nunca havia pensado nisso, em existir uma solidão de palavras. Porque as palavras que rodopiavam ao meu redor não pareciam minhas. (Não seriam mesmo minhas?)

Então percebi que havia ali uma pequena disputa e eram três os personagens: eu, a caneta e o papel - sem mais palavras nem pensamentos. Sem inspiração nem mais traços, nem rascunhos. Nada havia ali... Só o tempo e as horas. Um momento de pausa. Um abandono que esvaziava as pautas do caderno. Silencio!

Respirei fundo. Abri os olhos e observei tudo à minha volta. Dispostas na minha frente minhas canetas e alguns lápis. Uma velha borracha cúmplice desse silêncio. Apagava devagarinho cada palavra que me vinha. 

Pisquei algumas vezes, pois os olhos já estavam secos de tanto encararem o ambiente. E aos poucos fez-se um milagre. Um lampejo apenas. E as palavras foram chegando: uma, duas, dez, vinte e chegando mais... Muitas de uma só vez. Não conseguia arrumá-las, pois não havia ordem alguma entre elas e os pensamentos que eu tinha.

Agora eu estava afogada em minha ansiedade. O que fazer com tantas palavras? Não conseguia pensar, juntar, ordenar. Elas pareciam não se conhecer, não se (a)chegavam, eram quase contrapostas ou inimigas... 

Parei já bem cansada de esperar por algum resultado! Juntei as palavras que restavam e as coloquei todas ali, reunidas dentro do meu caderno, para deixá-las dormir. Quem sabe amanhã me darão um bom texto.