Um percussionista nato

Nem sempre o meu coração é bom pra mim. Às vezes, ele dói demais e me machuca, mas é um coração amigo; blindado contra as más interferências, encantado com a vida. E, de tão imantado, com uma boa camada de aderência, é capaz de amar quase que instantâneamente como se faz um miojo.

Ele não precisa do tempo e suas ferramentas soldadoras e solidificadoras de maiores sentimentos que dão uma espécie de certificado de garantia às relações. É um ser limitado e imperfeito que não faz questão de maiores virtudes para se entregar. Basta uma possibilidade de pele e de arrepio que ele vai se armando automaticamente e se atira, sem calcular, no exercício da sua função de viver e se apaixonar como se fosse um saltador olímpico.

É um coração fácil, juvenil e puro; um percussionista nato, que anima os meus passos e segue amiúde, comandando as alas dos meus sentimentos em harmonia com a luz, sempre evoluindo na direção do dia. Suas loucuras, sua inconsequência de amar, ele paga com muita dor, mas ela também vai passando no ritmo.