Propósito

O conhecimento de si,

Como pesa,

Porque lá é um mistério,

Pois por mais original,

Por mais objetivo,

Teu eu é feito de muitos.

E loucura pensar que jamais,

A si próprio nunca encontrar,

Mas o espírito humano anseia,

Ele quer entender,

Ele quer ser,

E não somente existir.

Dá comichões em um lugar não chegar,

Mesmo que esse lugar seja lugar nenhum,

De um simples eu,

E nada complexo,

Porém até isso,

É preciso uma busca,

E ela parece inalcançável.

Entretanto, se um dia paramos,

O gozo da vida,

Torna-se prazer vil irrefutável.

Sendo assim,

Como viver e ser feliz?

Se a todo instante,

Exigem-nos identidade,

Exigem-nos verdade,

E vezes e outras,

Alcançamos o eu,

E do nada o perdemos?

Sendo assim,

Como viver autenticidade?

Como adentrar seriedade?

Se querem que sejamos isto,

Todavia queremos ser aquilo,

E acabamos por nada ser,

Logo então,

Rebaixamo-nos,

E assumimos o pior eu,

O Desacreditado,

O pessimista,

O mal amado,

Pois o amor a si próprio,

Nem esse ele possui?

Estamos com pressa,

De mostrar que estamos vivendo,

Mendigando curtidas,

Almejando cutuques,

Querendo reconhecimento,

Mas nos esquecemos,

De perceber a própria vida,

De nos curtir,

De nos cutucar,

De nos reconhecer,

Reconhecer,

Que a vida é bela,

E se estamos aqui,

Temporariamente sem saber o porquê,

Essa vida,

Não deveria ser pequena,

Ela poderia ser sincera,

E não tão preocupada,

Contudo também não desleixada,

A ponto de nos perder no trivial,

E como chacal,

Saborear um vazio, às vezes, banal.

E procurando a perfeição,

Descobri que nunca vou alcança-la,

Mas posso fazer muito para que,

Imperfeito eu também não seja.

Hoje entendo que propósito ajuda,

E é isto que a ti aconselho,

Busque um propósito,

No entanto entenda,

Que sinceramente não sei,

Se propósito irá fazê-lo feliz,

E propósito não lhe garante felicidade,

Mas sem ele tu serás alguém triste,

Vivendo uma vida, tendo a sensação de que você apenas existe.

E o crucial momento é chegado,

Aquele quando enxergamos no propósito,

O provedor de um sentido,

A resposta de se estar aqui

Existindo,

Nada obstante,

Esse simbólico momento é confrontado,

Pela pergunta: Vale algo a resposta,

Do que se trataria,

Este,

Tal propósito?

E estamos agora à beira,

Da loucura,

Digo então,

Que mentiria,

Se negasse estar rindo de mim mesmo neste exato instante,

Pois acabo de indagar algo,

E rapidamente o interrogo,

O analiso,

E me dou por perdido,

Um doido, um estranho maluco.

E o que me põe então alegre,

É este mesmo riso,

Pois ele significa,

Que aprendi a filtrar-me,

Da necessidade de estar sempre a filosofar,

Sempre a questionar.

A vida,

Saturada de definições,

De mentirosas verdades,

De verdadeiras mentiras,

De ambíguas ambiguidades,

De bens tão malvados,

De maus tão bondosos,

Da mania de tudo relativizar,

Da mania de tudo explicar,

Quando às vezes,

Muitas coisas não se explicam,

E que complexidades podem se descomplicar.

E o segundo crucial momento irrompeu,

É quando percebeu,

O meu eu,

Que posso um propósito estar a buscar,

Posso um sentido existencial ignorar,

Mas tanto um quanto outro,

Se não há ninguém aqui,

Do meu lado,

Humanidade não irá existir,

E o um Ser humano não serei,

Serei apenas um animal,

Sozinho, previsível, imprevisível,

Só um mamífero,

Tão habitual.

Isso me leva a conclusão,

Propósito, busquemos,

Mas que haja um equilíbrio,

Da procura do ser,

Não negligenciando a procura do nós.

Devemos viver,

Em conjunto, jamais a sós,

Dê valor a quem te valoriza,

Não traia os que significam em tua vida,

Não faça mal a quem lhe faz sofrer,

Pois se assim fizer, qual a diferença entre ele e você?

Somos humanidade,

Qual seria a graça em um propósito encontrar,

Se ele for sozinho, ou um puro capricho de vaidade?

Magé, 17/10/2017 às 20:13