Minh'alma viajante
Aparecida Linhares
Serahnil

Deitei-me cedo, demoro a conciliar o sono. Leio algumas páginas com boas crônicas, mas na verdade, a inquietação por alguns pensamentos tira-me o prazer de apreciar os interessantes textos.
A madrugada avança, as ideias não se entendem, dispersas roubam-me a concentração, chacoalhando a calma.
Penso; conversar sería bom, trocar risos, sorrisos, quem sabe até gargalhadas, mas não, o melhor é deixá-lo sossegado, não devo incomodá-lo com minha madrugada contraditória.
Penso em você, ou seja, troco todos os pensares por um só, "penso você", mais especificamente, penso em como seria bom ouvir a sua voz agora, sinto a sua falta, pois gosto quando me diz palavras coloridas, com sabor de tutti-frutti. E o bom disso é que você sabe, confiei-lhe o meu pequeno segredo...
Sinto sua ausência a incomodar minhas horas, em forma de saudade um suspiro, enquanto imagino o som dos seus passos vindo ao meu encontro.
Bem que podíamos no meio da tarde, ou mesmo, numa madrugada tão desigual quanto esta, falarmos de pequenos nada que dizem tudo, ou grandes tudo que nada dizem.
Não, não devo incomodá-lo sendo inconveniente, quem sabe, esteja dentro duma madrugada atípica, adormecido a sonhar... Comigo de preferência.
É melhor tentar outra vez a leitura, mas no rodapé da primeira página, noto não ser esta a solução, já que, não lembro o que acabo de ler, a minha concentração diluí-se no oceano do meu desejo em ter você. Definitivamente, desisto do livro.
Um bom remédio é sem dúvida ir lá fora, ver o tempo, aspirar o cheiro doce da *murta no ar primaveril, olhar o céu azul sem nuvens, confessar para a lua o que sinto agora, contar as estrelas vendo carneirinhos e esvaziar a mente.
E então de volta a cama, abraço-me ao travesseiro e surpresa vejo que você estar aqui e dorme, resmunga algo e aquieta-se. Por algum tempo observo o seu semblante sereno, a respiração compassada. Sorvo o seu cheiro, aconchego-me bem e digo baixinho, você veio.
Juntos finalmente; ao seu lado, do meu lado, lado a lado estamos dentro do meu sonho, desde que "deitei-me cedo" e minh'alma viajou.

* Murta : arbusto, árvore pequena ( Eugenia floribunda ), nativa do Brasil, de folhas elípticas ou lanceoladas, flores brancas aromática
s.
Aparecida Linhares (Serahnil)
Enviado por Aparecida Linhares (Serahnil) em 24/10/2017
Reeditado em 26/11/2017
Código do texto: T6151452
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