"Crer ou não crer, eis a questão."

Crer ou não crer, eis a questão!

Me reporto à minha infância, quando a ideia das perdas está completamente fora de questão, e o que existe é um mundo de descobertas a se descortinar, não há preocupações que nos roubem o sono e a fantasia não é alegoria, mas as vestes originais de quem está sendo apresentado ao mundo.

Num ambiente simples, singelo, de privacão de abastança financeira, mas de fartura de alegria, esperança, harmonia, onde cada dia não era feito apenas de amanhecer, mas de promessas grandiosas.

Letrado na escola da vida, mas antes disso catequizado nas sagradas escrituras e posto diante do Deus da Bíblia como um novo arauto, fruto de um desejo oriundo dos corações dos meus progenitores. Não fugi desta intenção, antes entreguei-me de todo o meu coração, na certeza de que não cumpria apenas uma obediência familiar, mas um propósito soberano que transpunha toda vocação apenas de cunho religioso. Antes do "Atirei o pau no gato", aprendi "três palavrinhas só eu aprendi de cor, Deus é amor... Tra-lá-lá-lá-lá-lá-lá." E assim minha pobre rica infância se deu sob a égide de um pai e de uma mãe que se preocuparam que o seu rebento fosse mais um que se rendesse ao "ide", e ajudasse na propagação das boas novas de salvação. Não decepcionei, antes muito cedo revelei que o meu coração amava tudo aquilo que ouvia e que cada palavra fazia o seu real sentido, e desta forma à medida que eu crescia, eu também cria. Eu não apenas vivenciava cada momento da liturgia, mas me expandia num universo de mistérios e revelações. Se o jargão "eu era feliz e não sabia" cai como uma luva, ergo as minhas duas mãos e digo: foram feitas sob medida. Por vezes penso que viver uma inocência perdida é bem mais interessante do que desvendar novos horizontes e com isto trazer questionamentos que podem causar inquietação e a quebra de um silêncio de paz quando tudo era perfeito.

A gente cresce, amadurece, ganha uma independência e com esta, se permite adotar o aprimoramento da primitiva ou a adoção de uma outra consciência. Temos a liberdade de simplesmente guardarmos o que aprendemos ou seguirmos outras rotas, que nem estavam propostas.

Mas este é o curso natural da vida, que é manifesto no desencadear das escolhas. Algumas acertadas, outras uma tremenda mancada, mas mais uma vez só o tempo para dizer, concordar ou contradizer. Somos responsáveis por tudo que dizemos e tudo que fazemos, sem nunca esquecermos do nosso berço, das nossas primeiras lições que não foram na escola. Foram no seio da mais sagrada instituição... E o que aprendemos fica pela vida inteira... Acompanha pelo resto da vida como algo que está esculpido no subconsciente, e ainda que eu tente, não terei como não ouvir o eco de vozes que eu nunca hei de esquecer. E concluindo este texto solto novamente esta indagação que pode ser uma discussão ou uma interpelação a mim mesmo...

Crer ou não crer, eis a questão.

Lael Santos
Enviado por Lael Santos em 28/11/2017
Código do texto: T6184020
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