um para bill
burroughs é o desolado
o amante carniceiro
órfão bagunceiro
o desconforto caótico
do buraco negro erótico
sugando tudo ao seu redor como
um demônio sentado no sofá
com as pernas
cruzadas
as palavras invisíveis que se
proclamam malditas
na voz rouca
e nas batidas cálidas do jazz
o travesti com batom borrado
e vestido costurado
que sobe em cima da mesa
e começa a dançar
o carrasco do sistema
a falha no mecanismo
o cão sem dono que uiva surdo
pela madrugada
o vinho derramado pelo tapete
sobre a luz trêmula
a loucura elétrica que vem do chão rompendo
as dobras do inferno
e o grito inacabável que ecoa
noite adentro.
William S. Burroughs (05/02/1914 - 02/08/1997)