grades na janela

eu canto

a música dos portões do Anhembi

do caos da avenida que já mudou tanto de nome

que eu nem sei mais onde nasci

dos bares, das padarias, das biroscas falidas

e dos espetinhos do Simão

onde os bebuns cantam e fazem barulho até

dormir, do muro pichado por jovens

elétricos

que sempre inventam moda por aqui

a música dos que trabalham pela noite

e veem de tudo

dos que fazem festa em direção

ao Castelão em dias de clássico rei

dos que transam em carros funerários

dos porteiros e das marmitas frias

a música das guitarras que não sabiam cantar

mas que gritavam

e gritavam roucas

quando os amigos apareciam

dos abraços e do colo e do beijo quase roubado

dos cabelos negros e ondulados

e dos postes caídos na

imensidão do céu pintado de lilás

pela palmeira que me via

dia e noite e noite e dia

e se você quiser

eu viro o disco

e ponho o lado B

arranhando minha vitrola

a noite inteira

pra você.

Arthur Rabelo
Enviado por Arthur Rabelo em 06/02/2018
Código do texto: T6247054
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