O jorro da poesia

[Beabá. É estar além dos poetas mudos]

A letra arde à chama, ao fogo inclemente que ao vento crepita e alastra. Encontra o limpo e ainda assim, devassa. A letra solene. A letra corrosiva, inflamada, possuidora e possuída. A letra que toca. Que entra. Que sobe. Que derrama. Que vai dos olhos às pernas. A letra pura. Formada dentro e espalhada.

Está além do plágio, do mísero copiar dos que não conseguem encontrar nada dentro de si. Está além do mistério feito entre o céu e a terra. Está entre o cosmo e o inferno. Essa é a letra. Não é feita de duas linhas ignóbeis. Não é reles, não é mendiga. É rica em forma e conteúdo. Em sentimento, em linhas métricas, ou não, mas que desanda. Dá amor. Atrai seguidores. Incita. Causa pânico. Reflete e impõe uma reflexão.

Está em si e comporta. Está fora e abrange. Está. Serve à todos. Serve a um. Serve a si mesma. Não se submete. Não busca o aplauso, a fama, a inglória glória. Busca a si mesma e se encontra em si mesma. Fomenta Fernandos Pessoas. Atravessa sertões de Guimarães. Peca inclemente como Florbela. Rompe a loa de Neruda. Vai ao mundo de Whitman e arranca todos eles. Mostra um Manoel Barros atônito e revela a palavra. Canta e bebe a Dionísio, com Hilda. Mostra os olhos de Adélia e quanto mais sente dor, mais inventa. É criação. Finca a faca e ainda roda. Vai além. Vai ao longe, ao desmedido, ao impensado. Escrutínia a si e se elege. Por si, pelo talento. É pena que não manda recados, é guilhotina. É o desarvoro dos pobres tolos. Está por si. Vinga a si.

É letra em jorro. É letra coesa. É letra de mando.

Que seja pedra, sempre.

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