Proseando com Vieira ou Sermão da Quarta-feira de cinza

Isso de tornar pública coisa que no tempo do meu avô só se sabia frequentando uma casa, já deu a perceber que todo dia eu fol(h)io...fol(h)io... nesse carn-aval de palavras que avalizam minhas fantasias. É bem desse jeito: en-carnam-me as palavras! Ou eu me meto nelas, seus lances e perfumes. Por vezes, com confetes no salão. Outras, só o raiar do dia.  Sim eu como e bebo palavras, como quem sabe o sagrado e o profano que lhes dá corpo. Desafio qualquer um a provar que não come nada do que vive. Então nada de mais ser dia de cinzas e a fol(h)ia continuar por aqui, nessa começão de palavras, esse pecado que me salva. A(h) esse h! Já contei pro mundo o meu caso de amor e desamor por essa letra muda. Esses amores de carnaval que dão boas histórias. Esqueça! Não vou contar aqui uma boa história de carnaval. Tampouco farei sermão, embora o esteja lendo. Sim. O sermão da Quarta-feira de cinza. É que tenho gosto pelo gosto de Vieira pelas palavras. Esse homem, qual seu nome, produziu pérolas. Soube cose-las com arte. E nesse lanço de fortuna, sempre dá em quem lê o ponto na meada: “o homem em qualquer estado que esteja, é certo que foi pó e há de tornar a ser pó”. A prosa ficou séria, né?! Palavra é molusco brabo. “Cada um é o que foi, e o que há de ser”. E cada qual que se interprete. Em mim, desde sempre, esse pó é o chão do meu rio. E assim será, enquanto o rio não secar. E quando secar, lá estarei eu, rija e seca, o mais puro pó, guardando, no segredo do universo, os rastros d'água que correram nesse cor-po!