Para quem não é Transmontano!, ou não conhece os usos e costumes das gentes da Região,  estas Estátuas em Macedo de Cavaleiros,  são em homenagem a uma actividade bem antiga quando no verão se contratavam os "SEGADORES" pelas Aldeias para ceifarem as searas dos cereais nas encostas das serras ou em locais de difícil acesso a máquinas agrícolas.
Era tudo feito à mão, desde a sementeira à colheita.
O dono das terras contratava "segadores" muitas vezes pelo sistema "torna-geira" também chamado de "mutirão comunitário".
 
Este  meu poema é dedicado à Minha Saudosa Mãe – a Ti Julieta de Caravelas foi uma Grande Cozinheira na Minha Aldeia.
 A Estátua com a Cesta na cabeça representa a hora da Merenda que se fazia em casa (cozinhava-se longe do campo para evitar incêndios!) e depois se levava para o campo aonde estavam os “segadores” a trabalhar: tinha duas refeições de manhã antes da hora do meio dia: O mata-bico (ou desjejum)  era logo ao sol nascer  - o Almoço era antes do Meio Dia e de Tarde a Merenda se comia após a hora da Sesta.
Geralmente a jornada (chamada de Geira) tinha quatro ou cinco refeições pois os dias eram muito longos: Mata-Bicho ao sol nascer + Almoço na seara por volta das 10 da manhã + Merenda a meio da Tarde + Ceia à noite na volta pra casa  antes de ir dormir.
As deslocações eram feitas a pé!...e  por vezes os Segadores entravam até em terras de Espanha quando os donos das Terras os contratavam. Dormiam em Currais ou nas Curriças junto com os animais e até nas Eiras e muitas noites os segadores ficavam no próprio Monte debaixo de algum  sobreiro para evitar o cansaço de ter subir e descer para a Aldeia e pernoitar.  Depois da “segada”  ou ceifa,  como queiram lhe chamar vinha talvez a parte mais trabalhosa e compensatória; malhar, ensacar, e transportar os grãos para o celeiro e a palha de Trigo, Milho, Cevada, Painço, Feijão e outros era recolhida para alimentar os animais durante o Inverno, e a Palha de Centeio era amontoada na Eira para se usar nas “lojas” para aquecer os animais e fazer estrume para adubar as Terras.
Assim se cumpria o ciclo da vida: ou como diria Lavoisier; na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Por isso vos deixo aqui o meu pensamento destas recordações do meu tempo de Menino:  
 
 
 
 
O tempo das "segadas"! ..


Mondadeiras do Meu Milho!...
- ai mondem o meu milho bem!
Tirem as ervas daninhas...
- que a Merenda já lá vem!!!


De manhã tem "mata bicho"
E o almoço é bem mais cedo...
Foi a Minha Mãe que "mo dicho"
Quando fomos Merendar em Macedo!


Na panela tinha batatas com Bacalhau...
E no avental uma côdea de Pão Centeio,
Um naco de queijo d'obelha...
Às "bezes" um chouriço assado no meio!


Um garrafão de "binho tinto"
E uma caneca de "um quartilho"
Pra beber da "cabaça" depois da "sesta"
Enquanto se dava de mamar a um Filho!
Deitada na rama duma Giesta.


Tempo de "segadas" monte acima,
Pra depois se fazerem as "malhadas"
Uma "pousada" subia por cima,
Da testa e do calor da "malhadeira"...
E outras muitas empilhadas lá na Eira.
 
"Gabelas de palha de trigo"...
Cobertas com cobertor de lona,
Quando a trovoada andava na zona!
 
E diziam os mais antigos!...
Haja chuva e vento "Suão"
Que as geiras da "segada" ele o darão!
Para termos no Inverno o Pão do Verão!
(in: POESIAS SOLTAS De: Silvino Dos Santos Potêncio)
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil

 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 06/04/2018
Reeditado em 06/04/2018
Código do texto: T6301611
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