Brasil

O cidadão se apresenta:
Muito prazer, então você é o Brasil!
Engraçado, olho o mapa, observo...
Brasil, interessante!
Quer dizer, então, que você é o Brasil?
Mas, o que é o Brasil? O que significa?
Terras, matas, rios, litoral, minérios, montanhas?
E quem são estas pessoas que pisam este solo?
Que derrubam matas, poluem os rios e o ar!
Cortam montanhas, constroem edifícios e abrem túneis!
E quem são estas pessoas que cavoucam este chão?
Brasil quer dizer o quê? Nomes não dizem nada.
Poderia ser Sucupira, Jacarandá...
Então não seríamos brasileiros, mas jacarandeiros...
Mudaria alguma coisa?
Eu, reles cidadão me sentiria mais orgulhoso?
Quero que saiba, ô Brasil, que para mim não faz a menor diferença,
qualquer nome daria no mesmo.
O que sei é que sou um cidadão!
E ando desapontado...
Não com você, Brasil, Sucupira, Jacarandá, Jequitibá.
Montanhas, rios, florestas, não desapontam ninguém.
No começo até pensei que fosse com você o meu desapontamento.
E tive vontade de sair de você.
ir para outro Brasil: China, Albânia, Portugal...
Não é que os brasileiros descobriram Portugal!?
Ir pra cochinchina, pros quintos.
Até descobrir que você não tinha nada com isso.
É como se alguém usasse uma sandália e depois a jogasse fora, pois
não tinha mais serventia.
Descobri, então, que o meu desapontamento era com os homens, pois são eles que destroem.
Só não vão jogá-lo fora feito sandália surrada, porque não se joga fora este mundão de terra, rios, montanhas...
Primeiro eles poluem, abrem buracos por tudo é quanto é lado, derrubam as matas, matam os pássaros, devastam tudo, para saciar a fome de lucro imediato, por causa do vil metal.
E vão embora, deixando atrás de si a destruição.
Mas, nós, brasileiros, jacarandeiros ou sucupirenses, ficaremos, para cuidar carinhosamente este chão.
Dar-lhe remédio.
Amá-lo.

Contagem, 03 de novembro de 1989
O Comedor de Livros, meu terceiro livro semi-artesanal - 1991

imagem : Wikipédia E