América dos selvagens

Pelas terras e bandas de cá,

onde se notar a opulência

e o garbo da alta-roda,

há sim de se considerar a presença

de uma inexorável falência ética.

A estética do encanto,

cetro, manto e circunstância

plantou a relevância da civilidade

nesta América dos selvagens.

Tal sanha invasora e cruel,

bem fez transmutar sangue em mel,

suor em vinho, para somente

e tão somente, descaminho de tantos.

Como posso render-me à desmemória,

se as sobras desta glória forjada

me desancam a história e o tempo de viver?

Que me resta senão a sublevação,

notação de palavras em tom amargoso.

Se hoje vejo cores e gentes misturadas,

sei sim de toda uma equação de horrores

sacramentada pelos abusos.

Usos de corpos e desusos da dignidade.

Ah, essa igualdade idealizada...

É certo que ela consta nos regimentos da lei,

estanque na palidez das páginas dos livros,

hipotética e distanciada da forma empírica.

Sigamos pois, aquela estrada onírica,

a que nos levará a caminhar em círculos.

Não há estranheza no giro

e nem sutileza no conto.

Apenas a certeza que o ciclo,

se cumprirá de ponto a ponto.

Seria por demais divino o dia

em que o humano se apercebesse de si,

ali, em carne, osso e dor.

Na parecença do amor,

finitude e morte.

Sigamos pois, aquela estrada onírica,

a que nos levará a caminhar em círculos,

a esmo e à própria sorte.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 09/06/2018
Código do texto: T6359798
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