Profusão do tudo

Mais um ano, mais um monte inteiro de sorrisos, mais uma porção enorme de lágrimas. Eu te amo. Simplesmente, te amo.

Eu fecho os olhos e posso sentir as lágrimas que descem, que sobem, que me molham a superfície da pupila. Posso sentir a sensação viva de que te quero bem. Posso sentir o coração batendo não mais forte, mas sim mais compassadamente. Posso sentir o aperto no peito ao te imaginar num ambiente penumbroso. Posso confirmar todo o meu imenso bem querer por ti. Eu posso simplesmente sentir. Amo-te.

Eu te faço, aliás, te acho tão meu que me entristeço com a tua emancipação. Eu te acho tão meu que queria teu mundo pra mim. Eu te acho tão meu, indivíduo, tão meu...

Queria encontrar palavras, sair dos borrões. Queria perder minhas vergonhas, me enfrentar em mim. Queria te dilacerar as víceras, te estrangular a mente, os pés, as alegrias. Queria te ver pedindo perdão, queria te ver pateticamente implorando piedade. Ah, eu queria...

Eu vou enfiar uma faca no peito. Talvez assim as outras dores consigam anular-se. Acho que isso tudo é só porque eu queria estar fazendo parte da tua felicidade. Acho que eu queria ser um dos motivos, pelo menos, do teu sorriso. Talvez eu só queira ser alguém dentro de ti. Não é que eu te deseje algum mal. Só quero que um dos teus bens seja eu. Desculpa. Tira-me essa culpa. Eu também não gosto disso, mas admito: prefiro-te triste a feliz sem mim. Prefiro-te sombrio a ti sem mim. Prefiro-te.

Eu vou exprimir minhas vis emoções, eu vou liquefazer minhas velhas paixões, eu vou rasgar tuas velhas cartas, eu vou escarrar nas próximas bocas que me tocarem os lábios. Eu vou te cortar os pulsos, vou me embalsamar com teu sangue, vou te torturar, te judiar, te julgar. Vou acabar com teus planos, vou estragar a tua felicidade, vou te fazer dependente, vou te triturar as esperanças. Vais ver... Eu vou te meter nessa dança. Nessa minha vil dança. Ha, ha, ha Criança! Como és tola, pequena criança! Que bela palhaça tu me sais... há, há, ha Meu riso te ecoa aos ouvidos. Minhas mãos te encobrem o pescoço. Meus pêlos te aquecem o corpo, minhas armas te enganam a cabeça. Há, há, há Não tem mais jeito, querida. Eu já te domei o peito. Não é mais dona de ti. Não, não o és. Ha, ha, ha. Agora... Ah! Agora pertences a mim. Só a mim. Não tentes fugir. Tu já não tens para onde ir. Tu pertences a mim. Só a mim...

Eu sinto o gosto vermelho do morango, eu sinto o ardor do roçar de dois lábios. Eu sinto o gosto dos teus dentes. Eu sinto o fogo das tuas mãos. E ele queima. Queima, arde, dói. Machuca-me o corpo, marca-me as pernas, marca-me os braços, dilacera-me, derrete-me os traços. Ferra-me uma marca só tua nas costas, me torna uma coisa.

Eu sinto o gelado da tua língua inquiridora, eu sinto. Ela roça, fuça, procura. Ela me passeia por sobre o corpo, ela me molha o rosto. Ela me repugna. Tua língua me inebria. Tua língua me limpa, me suja, me enoja, me fascina. Tua língua é só minha.

E de novo sinto tuas mãos, que são pernas, braços e boca, e que me fazem tua, marcadamente e infinitamente tua.

DATA TEXTO: 19/05/2005