Eu sei

Eu sei. Parece que o mundo resolveu fechar as portas e dizer que a sua imbecilidade ou ausência de potencial já é o bastante, para descrer de qualquer esperança que insiste em residir. Eu sei. É como se levantar da cama, todas as vezes, atrasada o suficiente, ainda, fosse o maior dos obstáculos para enfrentar mais um dia exaustivo e com uma rotina ilógica para aqueles que são apaixonados pela vida. Eu sei.

Parece que existe algo sugando todo resto de boa fé, lá no fundo, e você se esforça muito para quebrar essa correnteza. Eu sei. É sufocador a ponto de cada gota d'água escorrendo não mais se fazer sentida de tão habitual. Eu sei. Dá mesmo um desânimo. As mesmas tarefas de sempre, os mesmos horários de sempre, a mesma gente de sempre, a mesma estupidez e a mesma falta de humanidade de sempre. Eu sei.

A vontade de se jogar na frente do primeiro automóvel de tanta desilusão do viver, contudo covarde demais para deixar para trás qualquer privilégio da sensação do estar vivo. Eu sei. Em diversas circunstâncias, nada faz sentido. Eu sei. A dor última é aquela fugaz, ao mesmo tempo, que cria ninho e se torna duradoura, através do tempo que não se cansa de passar. Eu sei. O estar sozinho ser agonizante, ao passo que se rodear de rostos e de corpos, também, deixa aflito, mesmo aqueles que fazem um bem tamanho. Eu sei.

Ser privada de poucos e supérfluos atos por falta do material é revelar a desimportância surgida do desaparecer momentâneo para muitos corações, estes acompanhados da razão - bastante consciente por sinal - eu sei realmente.

Eu sei que inúmeros vão querer apontar que, ainda, não está pronto ou que não chegou a sua hora, quando os mesmos já não existem e ninguém nunca alcançou, justamente, por não haver a maturidade, porém o decidir e a entrega de alma, isso é o mais bonito e o mais coeso. Eu sei. Parece que ninguém está amando você e que ninguém torce pela sua felicidade a ser conquistada. Eu sei. A crítica dilacerada pesa e não é construtiva, uma vez que não vem para ser esclarecedora e, sim, destrutiva. Eu sei.

As pessoas vão mesmo querer o seu pior lado e a sua maior desgraça, enquanto o sangue escorrer pelas veias. Eu sei. É madrugada e tudo vem saindo por entre os dedos, já que o sentir por si só não fala. Eu sei. Vai continuar a doer e vai amanhecer com tudo a se repetir novamente. Eu sei.

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 01/10/2018
Reeditado em 21/05/2019
Código do texto: T6464316
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