Segredos

Eis-me aqui, de peito aberto, disseca-me, qual tem sido seu desejo há tempos. Usa uma vez mais o punhal que usaste outrora nesta mesma carne, por motivo diverso. Não estranhe, porém, se não minar o escarlate do sangue que o corpo habitou, mas o preto do piche a que lho cedeu lugar.

Tua fortuna te apresenta a oportunidade, quem sabe única, de que saibas todos os mistérios enterrados em minh’alma. Valha-te, porém, de uma advertência tão óbvia quanto valiosa: “Sabendo-os os saberá”. Arma-te para que conviva com seu badalar na consciência até que pensar não mais o possa.

Ao sorver desta fonte negra não mais poderá evocar as bênçãos que da ignorância provém. Se, apesar do conselho – que de nada mais servem senão para não serem seguidos – decidir por dar cabo à empreitada, faça-o com coragem. Não tema o oceano de melancolia, as dunas de tristeza, a montanha de decepções ou a floresta de incertezas.

Enfrenta-lhes os desafios e, em algum covil isolado, talvez encontre um coração. Talvez, a esse termo, já não mais faça bater. Caberá a você descobrir se dorme ou morre.