Espirais
Me desloco no tempo, vejo teus ponteiros desatinados.
Da janela do quarto, cabelo ao vento, suspiro um ar
amanhecido de doces tarde passadas a limpo.
A louça lavada na pia, conta que o almoço foi breve, solitário.
Chá prá dois. Éramos dois lugares, duas xícaras.
Agora a sua caneca preferida dorme calada no armário.
Empoeirada.
De cada refeição compartilhada guardo a semente do teu olhar enternecido, infantil, divertido.
Desavisada, fiquei enlutada. Não que morrestes, mas a centelha que luzia em teus olhos apagou-se prá mim.
Fiz as malas apressada e assustada fugi. E fugindo me encontrei.
Não na caneca que guardei
Não nos recados que deixei
Nunca mais nas estrelas que contei.
Mas finalmente na força maior que dentro de mim eu achei.