Espirais

Me desloco no tempo, vejo teus ponteiros desatinados.

Da janela do quarto, cabelo ao vento, suspiro um ar

amanhecido de doces tarde passadas a limpo.

A louça lavada na pia, conta que o almoço foi breve, solitário.

Chá prá dois. Éramos dois lugares, duas xícaras.

Agora a sua caneca preferida dorme calada no armário.

Empoeirada.

De cada refeição compartilhada guardo a semente do teu olhar enternecido, infantil, divertido.

Desavisada, fiquei enlutada. Não que morrestes, mas a centelha que luzia em teus olhos apagou-se prá mim.

Fiz as malas apressada e assustada fugi. E fugindo me encontrei.

Não na caneca que guardei

Não nos recados que deixei

Nunca mais nas estrelas que contei.

Mas finalmente na força maior que dentro de mim eu achei.

Voando Alto
Enviado por Voando Alto em 17/09/2007
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