Scarlet

De que adianta subverter-me a este mundo que me constrói e destrói, me vigia e pune, me acalenta ao tempo que corrói todas minhas articulações que clamam pelo fervor deste sangue capaz de colorir as pétalas daquela rosa.

Hei de recordar aquele dia nublado em que, sentado em minha jaula, olhava o sol como a morte, ou melhor, como um inferno, assim como o de Dante. Todavia, este clarão não carrega três pessoas. Somente uma. Eu fui, eu sou e serei meu próprio inferno.

Enquanto as correntes seguravam-me eu sentia a vida sumindo, sentia que a escuridão se aproximava. Mas ali, bem ali, naquela cidade de espinhos, nascera uma flor diferente, atingindo certa tonalidade compatível com minhas veias. Uma cor morta, uma cor triste. Pela primeira vez em muito tempo abri meus olhos e senti algo quente, não realizei meu desejo, não consegui transcender o homem, contudo, alcancei o primeiro passo, um motivo para existir. Naquele caule, estava minha vida.

Se lembra de quando nos olhamos? Meu coração bateu, alcançando uma pureza maior que a de Heisenberg meu olho encheu, por que, mesmo se soltando das correntes, não conseguia lhe tocar. E, sendo assim, adoeci.

Neste momento já não sentia a tristeza que me seguiu por todos os minutos desta minha vida angustiante, foi embaixo de muita dor que entendi aquela flor, e ao olhar para ela, a felicidade me venera.

Naquele dia eu consegui conversar com as estrelas, somente com esse subsídio fui capaz de entender e entrar em consonância com cada molécula do meu corpo. A partir disso, minha decisão já tinha sido tomada.

A muito custo libertei-me da jaula que prendera minha essência, com a visão turva andava calmamente segurando em qualquer superfície que encontrava, ao tocar em cada uma dessas dimensões finalmente me tornei livre, ou pelo menos me imaginava assim. Todavia, não percebi que já estava enfeitiçado por cada centímetro daquela rosa, quando a revi, minha visão não conseguia tomar outro rumo que não suas pétalas. Elas eram, simplesmente, mais bonitas que qualquer sorriso jamais descrito, foi assim que deixei de ver o mundo a minha volta, mas qual era o problema? Só precisava esticar meus braços e finalmente estaríamos juntos, finalmente seríamos um.

Ao lhe tocar senti meu sangue escorrer, era vermelho, soube, então, que poderia dar tonalidade a sua vida, soube que poderia tirar o cinza do seu sorriso, por mais um momento, fui feliz. Porém, você desapareceu, fiquei estático, para onde poderia ter ido? Em um segundo, voltei a escuridão que tanto mantive ao meu lado. Não poderia aceitar, precisava te encontrar, dei a volta ao mundo por você, encontrei locais que jamais poderia imaginar e, finalmente, lhe achei.

Você estava ainda mais bela, perdera aquela cor inóspita que levava consigo naquele dia, mas, ao me atentar, vi que não estava sozinha, uma outra rosa estava ao seu lado, logo entendi, tiveras, ó meu amor, encontrado alguém que te catives?

A resposta era tão clara que não poderia permanecer por mais um segundo naquele lugar. E como um poema de Bukowski, entendi que a solidão era meu único lar, não queria mais esta vida, precisava ir embora, queria me tornar uma estrela, mas como o fazer? Já sei, deveria morrer. Mas me falta coragem, nunca conseguiria. Decidi, angustiantemente, voltar para minha jaula, cobri meus olhos esperando sumir, mas no outro dia continuei lá. E assim, esperava ansiosamente alguma rosa aparecer, ou quem sabe uma raposa, meu coração não suportava mais tamanha solidão, pois em mim, não encontrava nenhuma razão, viver era minha doença, e aquela rosa, meu único remédio, que agora se perdera entre as estrelas. Se algum dia me perguntassem o motivo pelo qual és especial, tenho comigo a resposta, seu jeito, unicamente seu jeito que, quando contemplado por suas pétalas me enche de tanta positividade e amor, deixando meu peito aquecido, sem você o tempo não para, em sua companhia o tempo se torna nossa canção, se o sol é meu inferno, fostes minha salvação, mas tendo estado longe de ti, só me resta escuridão.