VIDA DE BOIA FRIA
Todo dia é a merma coisa:
Acordo di madrugada...
Pego a marmita gelada...
E saiu pra trabaia!
Pego o baú lotado...
Sintino um calô danado...
Cum muita gente si isfregano.
O patrão já istá isperano...
Pra ‘eu pegá no batente.
Já istá meio descontente...
Prumodi que ‘eu cheguei atrasado.
Num era ‘eu o errado...
Prumodi dessa situação.
...Já mi bota numa sinuca...
Prumidi que tenho que dá uma discurpa...
Devido o meu atrasamento.
Meio sem contentamento...
Ele acaba aceitano.
Porém fica me oiano...
E me manda trabaiá.
Uma lixaiada limpá...
Eita serviço pesado...
Fico todo istrupiado...
Mais tenho que ganha uns tostão...
Pra modi compra o pão...
Quando chega o fim da tarde...
Istô que é só o bagaço.
Divido o meu cansaço...
Mermo cum o baú lotado...
Eu cuchilo encostado...
Prumodi que num tem outrá saída.
Im casa a muié me ispera...
Ais vezes me diz uma pilherá...
Prumodi que ‘eu passei no buteco
Pramodi tumá um ingasga gato.
Quem sabe meu Deus um dia...
‘eu ganho na loteria e me livro dessa sina...
De vida de boia fria.