Fora(in memorian a papai)

Quisera que tivesse ao menos o cheiro de graxa no volante do carro.

O cinto de segurança carimbando a blusa minha com a sujeira do óleo queimado que estivera grudado na blusa de trabalho do papai.

Quisera poder ao menos vê-lo em uma tribuna pregando palavras salgadas, cheias de excessos, que meu juízo nunca engoliu.

Quisera poder ver, pelo e tão somente, no domingo dos pais, papai à mesa comendo a comida salgada proibida...hoje não oporia...deixaria ele esvaziar o saleiro, somente para testemunhar a seu apetite, encher a boca com comida, distribuindo entre as bochechas, mastigando e engolindo lentamente, regado a conversa e risos intermitentes conosco. Eu, as meninas, mamãe e a " famiage" toda .

Quisera poder, amanhã, por ser dia dos pais, pagar sozinha a conta no restaurante, mesmo com o cartão estourado; para papai comer a carne de churrasco, a linguicinha, tomar a cervejinha comedida. Somente para ver papai no seu melhor, aquele homem galante, fino de propósito, chegando e causando.

Quisera saber de papai, mesmo que somente por notícia, de que estava resolvendo caso de casal briguento, nos quartinho dos Templos, tentando salvar relaçoes. Que visse ele somente pelo Face, Zap, pela fala do outro. Mas que ele estivesse aqui, de corpo presente.

Que me alimentasse da saudade pelo "Alo!, e aí filha, a paz de Deus", ao telefone. Aquela voz grossa, sintonia gostosa, segura, definida do masculino de ouvir....não tenho-o mais.

Seu cheiro de graxa, na roupa, no carro, na cadeira que sentava, no sinto de segurança, a mão com as impressões digitais marcadas pelo óleo queimado, que saía somente com o sabão em pó do Zé Gordo.

Se foi...papai. Deus Pai quis, Deus Pai quis!!! Remoeremos a saudade, eu, mamãe e as meninas.

Amanhã, sua cadeira estará lá, vazia na hora do almoço. Insubstituível.

O amor é fogo que arde sem se vê.