Caixa de Pandora

Mostro umas coisas, mas nada que dê muita intimidade. Minhas coxas são grossas, minha voz é fraca, meus braços são fortes e às vezes perco a cabeça. Ontem mesmo, tinha aquela lua, umas estrelas...

Nem vi o sangue cobrindo as ruas da cidade, o vermelho tingindo tudo. Vi só as cores da delicadeza. Elas me escorriam pelas pernas. Como onda de se afogar. Como arma de se matar. Não sei. A cidade é sempre tão grande e as pessoas passam e as ondas me sobem. O sal que mora na carne daquele homem me satura as entranhas. É o mesmo sal. Suor, pecado. São sonhos recônditos como infinitas são as marcas dos seus pés no meu passado. Sou oceânica, profunda e ele mergulha em mim. Ele se embaraça nas minhas redes, nos meus sargaços e me beija a boca. Ele respira dentro e já me faço muitos antros, muitos corpos, deságuo na luta, desesperada. Há tanto gemido, grito, rasgo em meus ouvidos de profundidade que as feras se apertam e marcam os meandros do corpo dele. Essas correntes, os fluídos e a imagem dele refletida pelos cantos da minha alma marcam as minhas feras e me entrego. Vejo as estrelas passando por seus poros e confundo com o sol. É o calor que vem das cinco pontas. Dos dedos dele na mão aberta. A lança desperta e rompe as barreiras e a vida cabe nas mãos dele. O Universo todo está ali em seu retumbar rouco, batendo, batendo, batendo...

Vejo de novo as estrelas, a lua permissiva e platinada... durmo o sonho inteiro nas gotas da minha pele antes de fechar a caixa.

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