Vozes...
 
"A minha consciência tem milhares de vozes,  
E cada voz traz-me milhares de histórias, 
E de cada história sou o vilão condenado."

(William Shakespeare)

Tenho ouvido vozes...
São vozes que ecoam na minha cabeça, murmurando coisas sem nexo, desconexas, conexas, paradoxais como ressonâncias da minha própria consciência.
Vozes que se misturam a minha realidade, me chamando à razão muitas vezes, mas em outras me fazendo mergulhar em profundos dilemas existenciais.
Sussurros, gritos estridentes, palavras soltas, ritmos cadenciados, desafinados, se misturam em uníssono, confundindo, esclarecendo, interrogando, acusando, absolvendo.
A loucura paira sobre meus pensamentos que são ecos das vozes inquisitivas que, a todo momento, questionam quem eu sou, como eu sou, o que quero, o que me aprisiona, o que me liberta, o que me estimula, o que me desestimula, o que me faz progredir, o que me estanca. A loucura se contrapõe à sanidade; a sanidade se mistura aos devaneios; os sonhos se confundem com a insônia; o choro se junta ao riso.
Beiro o precipício, caminhando a passos largos para o abismo, quando as vozes me acusam de negligência com quem eu deveria ser. Emerjo das profundezas escuras da falta de perspectiva quando as vozes falam de persistência, resistência, vitória, vida...
Quem sou eu? Por que me deixo contaminar pelos murmúrios desestimulantes quando existem vozes que acalentam sonhos e triunfos?
Contradições de uma vida conturbada...

Bete Tezine