Molde

Será que além do lago dos meus olhos

as águas ainda são mansas e esperam

tranqüilas o encontro do céu com o horizonte cansado das horas tantas?

Dentro do espelho morará o eu real

ou essa mentira que tenta mover-se

além do labirinto, fugindo sem pares da contracultura borrifada de bolhas de censura?

Apontam-me cheios de soberba,

curiosos narizes empinados,

meus pés são chãos, suspensos por sonhos; nem que saltem por vales

ou se curvem, serão por servidão,

alheia aos que marcham em fileiras,

ordenados por um pomposo pseudo líder,

rolo indiferente na relva entre flores, pelo

prazer de ser unicamente soberana

no meu próprio reino.

Há muito o calendário me escapa pelo vão

dos dedos com risos largos, e entre o acaso e o descaso prefiro a real condição

de ser a mesma dentro e fora do espelho.

Há mais de mim dentro dos meus "eus"tradicionais

do que o que me escapa sem controle nessa chuva de verbetes e anexos risonhos.

Que eu me encare sem limites e que sem limites eu seja de mim e para mim mesma,

meu açoite de censura e minha decantada

liberdade; assim, entre os meus sins e os meus nãos ainda serei o equilíbrio desajustado do meu "eu" anatômico.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 05/11/2005
Código do texto: T67492
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2005. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.