Molde
Será que além do lago dos meus olhos
as águas ainda são mansas e esperam
tranqüilas o encontro do céu com o horizonte cansado das horas tantas?
Dentro do espelho morará o eu real
ou essa mentira que tenta mover-se
além do labirinto, fugindo sem pares da contracultura borrifada de bolhas de censura?
Apontam-me cheios de soberba,
curiosos narizes empinados,
meus pés são chãos, suspensos por sonhos; nem que saltem por vales
ou se curvem, serão por servidão,
alheia aos que marcham em fileiras,
ordenados por um pomposo pseudo líder,
rolo indiferente na relva entre flores, pelo
prazer de ser unicamente soberana
no meu próprio reino.
Há muito o calendário me escapa pelo vão
dos dedos com risos largos, e entre o acaso e o descaso prefiro a real condição
de ser a mesma dentro e fora do espelho.
Há mais de mim dentro dos meus "eus"tradicionais
do que o que me escapa sem controle nessa chuva de verbetes e anexos risonhos.
Que eu me encare sem limites e que sem limites eu seja de mim e para mim mesma,
meu açoite de censura e minha decantada
liberdade; assim, entre os meus sins e os meus nãos ainda serei o equilíbrio desajustado do meu "eu" anatômico.