Agressões Urbanas

São agressões urbanas.

Tudo começa quando a rotina do meu celular me diz que vou levar o dobro do tempo que levaria pra fazer um percurso exageradamente simples.

“Parece que tudo as vezes conspira pra nos fuder”.

Quando penso nisso, lembro da minha ansiedade e lembro que não tomei o remédio antes de sair de casa.

“Merda”.

Aprendi a lidar com essa merda de mundo que quase sempre me engole. Como uma criança engole um copo de conhaque no sinal, porra.

Que mundo merda.

Começo a entrar na brisa da ponta do baseado da noite anterior e pensei na letra da salsa que tocava no fone:

“Ayer lloré por tu ausencia

sientiendo em mi alma un profundo dolor,

why hoy rio a carcajadas pues ya no te quiero

tengo un novo amor”

Aprendi a me amar. E tô legal pra caralho assim.

Conheci uns colombianos no meu último rolê, eles tocavam salsa e eram super alto astral. Eles acharam que eu era latino pelo meu espanhol, e falei que era “tão latino quanto o Bolsonaro era democrático”. Isso já foi o bastante pra gente se enturmar e falar mal da politica, bem do Chile, fumarmos um baseado e eles me chamarem pro show deles.

Parece que vai ser legal e tô pensando em ir.

Porra, eu ainda tô na Posse. Que trânsito filho da puta. Vou ter que avisar que vou atrasar, de novo.

Detesto essa merda.

Enfim, parece que certas merdas só acontecem com a gente. Já me deram as mais diversas explicações: desde depressão a “Mercúrio cruzando com Vênus” - e embora eu seja pisciano, não faço a mínima ideia do que isso significa.

Prefiro acreditar que tenha algo bom pra caralho no fim desse arco íris de merda que tô passando. Tipo, um pote gigante de ouro.

Daí eu torro tudo com maconha, puta, cerveja, e com as minhas tatuagens. Talvez eu compre um conversível e ganhe um boquete a luz da lua.

Parece ser uma idéia legal

Finalmente: São João de Meriti. O trânsito aqui costuma ficar uma merda. A saída da empresa de ônibus fode tudo ali.

E a cada buraco, o ônibus agride as costas do pessoal do fundão.

Uns xingam o motorista, outros viram pro lado e voltam a dormir.

Queria estar em casa dormindo, mas quando se mora na Baixada ou se chega muito cedo, ou muito tarde.

Hoje acordei às quatro, no melhor do sono. E quando dou sorte, desconto um pouco no trajeto.

Peguei um lugar. Bom!

Um barulho de britadeira infernal do lado esquerdo abriu a nossa manhã.

Daí, ninguém conseguiu mais dormir.

“Parece que as coisas só acontecem com a gente”, penso.

-Mas, é só mais um dia aleatório por aqui.

Marcos Tinguah Vinicius
Enviado por Marcos Tinguah Vinicius em 08/11/2019
Reeditado em 12/11/2019
Código do texto: T6790144
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